Por Maria Laura Rodrigues Gomes – Consultora e Especialista na Área do Agro
No cenário mundial de 2025, enquanto muitos países enfrentam o dilema entre produzir alimentos ou preservar seus ecossistemas, o Brasil surge como uma exceção, um fenômeno, um caso singular que desafia lógicas antigas e surpreende até os mais céticos. Somos um país capaz de ser, simultaneamente, uma potência produtiva e uma potência ambiental. Essa combinação, que para alguns parece utópica, é sustentada por números sólidos e uma verdade que por muito tempo ficou escondida sob narrativas distorcidas: quem preserva a natureza no Brasil, em grande parte, é o produtor rural.
Os dados apresentados pela Embrapa Territorial na COP 30 revelam que 65,6% de todo o território brasileiro permanece coberto por vegetação nativa preservada. Em pleno 2025, num mundo que reduz florestas para dar lugar ao crescimento urbano, ao avanço populacional e às demandas industriais, o Brasil mantém mais de metade de seu território intacto. Essa percentagem representa mais que números; ela traduz nosso compromisso com o meio ambiente, nossa identidade natural, nosso patrimônio verde. E ainda mais admirável é constatar que 29% de toda essa vegetação está dentro de propriedades rurais privadas. Ou seja, a conservação brasileira não é feita apenas por decretos governamentais ou áreas protegidas oficiais. Ela acontece principalmente onde se produz.
Todos os dias, nas madrugadas que começam antes do sol nascer, há produtores atravessando porteiras, observando o céu, cuidando da terra. Eles plantam, colhem, regam, adubam, corrigem, medem, trabalham incansavelmente. E enquanto fazem isso, protegem. Protegem porque sabem que sem árvores, não há água. Sem água, não há lavoura. Sem lavoura, não há vida. O ciclo de preservação no Brasil não está apenas nos discursos, está nas propriedades, nas práticas, na consciência de quem vive o agro com responsabilidade.
O Brasil produz ocupando somente 31,3% do seu território. É nessa pequena parcela que se concentra a maior produção de alimentos tropicais do planeta, um dos maiores rebanhos bovinos do mundo, uma agricultura altamente tecnológica, eficiente e reconhecida internacionalmente. E mesmo assim, além dessa área produtiva, o produtor ainda mantém reservas legais, áreas de preservação permanente e fragmentos florestais que garantem biodiversidade, água, solo vivo e equilíbrio climático.
Quando analisamos os biomas, essa realidade se revela de forma ainda mais impressionante.
O Cerrado, frequentemente visto como área vulnerável, possui, segundo os últimos levantamentos, 34,7% das áreas dentro das propriedades rurais preservadas. Isso contribui para que mais da metade de todo o bioma continue intacto, garantindo as nascentes que abastecem os maiores rios do país.
Na Amazônia, que recebe olhares do mundo todo, os imóveis rurais mantêm preservados 27,4% de suas áreas. O bioma como um todo conserva cerca de 83,7% de sua cobertura nativa, contradizendo globalmente a falsa narrativa de que a floresta está prestes a desaparecer. O Brasil tem desafios ambientais, é claro, mas também possui conquistas ambientais extraordinárias — e boa parte delas está na mão de quem produz.
Quando piso em uma propriedade rural, quando converso com produtores, quando observo o cuidado com uma nascente cercada ou o respeito por uma mata ciliar, vejo o verdadeiro retrato do agro brasileiro: um setor que aprendeu, evoluiu e se transformou. Hoje adotamos agricultura de precisão, manejo integrado, uso racional de insumos, sistemas sustentáveis, integração lavoura-pecuária-floresta, nanotecnologia, bioinsumos e modelos produtivos que reduzem impacto, aumentam eficiência e preservam recursos. O agro moderno não desmata para crescer. Ele intensifica, ele recupera, ele renova.
Para cada crítica distante, existe um produtor que acorda às 4 da manhã e trabalha até o escurecer para manter sua família, seu solo e sua floresta. Para cada manchete exagerada, existe uma área de reserva legal que permanecerá preservada por toda a vida. Para cada narrativa ideológica, existe um estudo científico mostrando que o campo brasileiro mantém mais vegetação que muitos países inteiros.
Como consultora e especialista nessa área, dedico minha carreira a ouvir, aprender e orientar esses homens e mulheres que sustentam o Brasil. Vejo de perto os desafios enfrentados: a pressão internacional, as exigências de mercado, a instabilidade climática, o custo de produção, as barreiras logísticas. E ainda assim, mesmo diante de tantas dificuldades, o agro brasileiro segue sendo responsável, forte e resiliente. É um setor que não se faz de vítima; se faz de solução.
A verdade é que o Brasil preserva porque o produtor preserva. Não existe sustentabilidade nacional sem sustentabilidade no campo. Não existe biodiversidade sem reservas legais. Não existe água sem matas ciliares. Não existe futuro ambiental sem presente produtivo equilibrado. O produtor rural não apenas respeita a natureza; ele é parte dela. Ele a protege porque sabe que sua existência depende do equilíbrio entre o que planta, o que colhe e o que devolve à terra.
É por isso que, quando digo que o agro brasileiro é motivo de orgulho, não estou fazendo um discurso vazio. Estou afirmando uma realidade. Um país que preserva dois terços do seu território, que produz alimentos para mais de um bilhão de pessoas, que mantém tecnologias ambientais avançadas, que agrega valor ao campo e que conserva a maior biodiversidade do planeta não pode ser definido por narrativas rasas. O Brasil precisa ser reconhecido, estudado, admirado e respeitado pelo modelo único que construiu.
Eu, Maria Laura Rodrigues Gomes, acredito profundamente no potencial do agro. Vejo um futuro no qual continuaremos crescendo sem expandir áreas, produzindo com ciência e tecnologia, protegendo nascentes, cuidando do solo, fazendo do campo um patrimônio estratégico nacional. Acredito que o agro é hoje, mais do que nunca, a força que alimenta, preserva, equilibra e sustenta o país.
O Brasil não é apenas um território geograficamente grande. Ele é grande pela força de quem produz e pela grandeza de quem preserva. E enquanto houver produtores rurais comprometidos, profissionais sérios, ciência, tecnologia e verdade, continuaremos sendo referência mundial em sustentabilidade e produção.
O agro não ameaça o verde.
O agro mantém o verde.
O agro não destrói o futuro.
O agro constrói o futuro.
E o agro brasileiro, com toda sua força, inteligência e responsabilidade, continuará sendo o maior exemplo de que é possível alimentar o mundo e preservar o planeta.






