Entenda a importância da qualidade da pastagem
A nutrição animal é um dos alicerces de qualquer sistema de criação, junto à genética e ao bem-estar dos rebanhos e plantéis. Essa premissa se torna lógica se pensarmos que é somente por meio da alimentação que os animais obtêm todos os nutrientes necessários para produzirem mais e melhor.
Uma média de 95% da carne bovina brasileira é produzida no pasto, e isso se torna um diferencial competitivo do país no mercado internacional, já que o regime de pastagem reduz o custo de produção da pecuária. Entretanto, é a escolha acertada do capim para o gado que faz com que o sistema seja, de fato, eficiente.
Falaremos sobre como escolher o pasto ideal no final do artigo. Por enquanto, veja os capins mais utilizados nas fazendas brasileiras e, no tópico seguinte, conheça alguns bons exemplos de pastagens altamente produtivas.
Conheça os principais tipos de pastagem existentes no país
O Brasil tem um território vasto, que permite o uso de diversos tipos de capim para o gado. Como cada forrageira tem suas características adaptativas, algumas se saem muito bem em determinadas regiões, enquanto outras, nem tanto.
Contudo, há espécies de plantas que, por causa da sua palatabilidade e rusticidade, são mais comumente utilizadas como pasto no país. São elas:
- capim-mombaça — um dos preferidos pelos bovinos, é altamente produtivo e se adapta muito bem a diferentes condições climáticas. Porém, precisa de solo fértil e, por conta desse custo de produção, é mais recomendado para áreas menores, cujo manejo seja facilitado;
- capim-marandu — também conhecido como braquiarão, há mais de 30 anos é o capim mais comercializado no Brasil, devido à sua flexibilidade para se adaptar às diferentes condições climáticas e níveis de fertilidade do solo. A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) desenvolveu híbridos superprodutivos dessa variedade (falaremos sobre isso no próximo tópico);
- Brachiaria decumbens — forrageira muito utilizada no Cerrado e em solos cuja acidez é alta e a fertilidade é baixa. É resistente ao pastejo e ao pisoteio intenso.
Confira os tipos de capim para gado de corte
Há diversas espécies de gramíneas que podem ser utilizadas para a alimentação do gado de corte. Comumente, elas são divididas em três grupos, de acordo com as suas características botânicas, bem como suas capacidades adaptativas e produtivas: coloniões, braquiárias e tiftons.
A seguir, veja os tipos de capim mais recomendados para o gado e algumas particularidades dos grupos.
Coloniões
O grupo dos coloniões está entre os que têm maior capacidade produtiva e alto valor nutritivo, suportando de quatro a cinco animais por hectare. Além disso, tem alta palatabilidade e, por produzir muitas folhas e poucos colmos, é o preferido dos bovinos.
Contudo, para que a forrageira expresse todo o seu potencial nutritivo, o solo precisa ser consideravelmente fértil, o que pode acarretar maiores investimentos do produtor, dependendo da localização da sua propriedade. Ademais, a sua taxa de rotação cai nos períodos de seca e, como o rebanho precisa ser alimentado o ano todo, é preciso estar atento.
O grupo dos coloniões é conhecido por abranger as gramíneas do gênero Panicum. Entre eles, destacamos:
- capim-mombaça;
- capim-massai;
- capim-tanzânia;
- BRS Zuri;
- BRS Quênia.
Vale lembrar que as variedades são o resultado de pesquisas da Embrapa, que desenvolve cultivares híbridas para serem mais resistentes aos ataques de fungos e das cigarrinhas-das-pastagens e, também, para se adaptarem melhor a solos encharcados e menos férteis.
Braquiárias
O grupo das braquiárias é, de longe, o mais utilizado no Brasil. Isso se deve ao fato de que as suas forrageiras são bastante flexíveis, adaptando-se bem aos diferentes climas e níveis de fertilidade do solo.
Como elas têm raízes profundas e vigorosas, são amplamente utilizadas como boa alternativa em solos pouco férteis, além de apresentarem maior tolerância ao frio e à seca. É comum que se divida o pasto com mais de uma braquiária, de modo que uma compense um ponto negativo da outra.
Por exemplo, o capim-marandu ou braquiarão (Brachiaria brizantha) não suporta solo encharcado, mas a variedade Brachiaria humidicula tolera muito bem o excesso de umidade do solo. As braquiárias têm boa palatabilidade e são nutritivas para o gado. Outros exemplos são:
- Brachiaria decubens;
- Brachiaria ruziziensis.
A Embrapa desenvolveu cultivares híbridas da espécie Brachiaria brizantha, Marandu, que são altamente produtivas, além de terem alta plasticidade e capacidade adaptativa. São elas:
- BRS Piatã;
- BRS Paiaguás (indicado para períodos de seca);
- BRS Ipyporã (alto valor nutritivo, sendo muito bom para a recria).
Tiftons
O grupo dos tiftons engloba as forrageiras do gênero Cynodon, que são ainda mais produtivas do que os coloniões, resultando em boa produção de matéria seca, bom fornecimento de proteína bruta (PB) e boa digestibilidade. São excelentes para pastejo e produção de feno.
Os tiftons têm alta capacidade adaptativa: se dão bem em regiões quentes e são as espécies mais resistentes às geadas. Aceitam solos arenosos, argilosos ou mistos, desde que bem adubados, já que esses tipos de capins são exigentes nesse quesito.
Contudo, não toleram solos encharcados nem ambientes sombreados. Outra desvantagem dessas forrageiras é que não se propagam por meio de sementes, e o plantio deve ser realizado com mudas. Cabe ao gestor avaliar se esse método é viável e favorável à sua produção.
São conhecidos como grama-bermuda ou capim-estrela, e as espécies e cultivares mais utilizadas são:
- Cynodon dactylon;
- Cynodon nlemfuensis;
- Cynodon plectostachyus;
- Tifton 68;
- Tifton 85.
Saiba como escolher a melhor pastagem para o gado
Diante de tantas possibilidades, pode ser difícil escolher o pasto para o gado. Entretanto, você deve ter percebido que não existe um tipo de capim que seja o melhor entre todas as variedades disponíveis, mas sim o ideal para a sua propriedade.
Isso significa que é preciso levar em conta diversos fatores para tomar a decisão acertada, já que tudo está interligado, funcionando de maneira dinâmica. O primeiro planejamento deve ser em torno dos seus objetivos de criação (se o gado é de cria, de recria ou de engorda), e se o pasto será utilizado para pastejo ou para a produção de silagem.
A partir disso, você vai analisar as condições ambientais da sua região e ver quais forrageiras se adaptam bem, ao mesmo tempo em que atendem aos seus objetivos e às exigências nutricionais da raça de gado de corte que você cria. Veja alguns conselhos que separamos.
Analise as condições climáticas
O Brasil tem uma grande diversidade de biomas, e eles apresentam diferenças significativas quanto ao regime de chuvas, à temperatura e à intensidade de luz. Uma vez que essas variáveis interferem diretamente no desenvolvimento das plantas, a escolha acertada do pasto leva em consideração a região em que a fazenda está e suas condições climáticas.
Sendo assim, propriedades localizadas no Sudeste, no Centro-Oeste e no Norte do país se beneficiam de gramíneas resistentes à umidade, à exposição solar e às altas temperaturas. Já a região Nordeste deve focar as variedades que tolerem períodos de seca e de baixa umidade, enquanto no Sul vale a pena investir em forrageiras que suportem o frio e a geada.
Avalie o solo
Um dos maiores erros dos pecuaristas é não analisar as particularidades do solo na hora de escolher o capim para o gado. Porém, é fundamental se lembrar de que a produtividade da forrageira tem ligação direta com a qualidade do solo.
Além disso, muitas das espécies e suas variedades cultivadas hoje precisam de um aporte robusto de nutrientes para se desenvolverem plenamente e entregarem aquilo que o produtor deseja para o seu rebanho. Mas de nada adianta escolher o capim mais produtivo, se o solo não oferece condições favoráveis para que o pasto expresse o seu potencial.
Assim, uma boa estratégia é fazer coleta de uma amostra e analisar para verificação das deficiências do solo na sua fazenda. Corrija o solo, se necessário, e invista em diferentes métodos de adubação para manter a qualidade das pastagens e evitar intervenções maiores no futuro, que exijam a recuperação da área.
Ofereça alimentação adequada a cada fase
Além dessas questões, é crucial ter em mente que as forrageiras variam bastante em relação ao teor de proteína e de energia e à produção de massa, por exemplo. Por esse motivo que, além de vantajoso, é essencial que o produtor ofereça um alimento direcionado à fase produtiva em que o gado se encontra, selecionando forrageiras que apresentem em maior quantidade os nutrientes de que cada categoria necessita.
Somado a isso, reforçamos que é fundamental fazer o manejo das pastagens para que o rebanho receba sempre o pasto na sua melhor condição. Então, vale lembrar que a velocidade de crescimento das plantas também deve ser considerada, especialmente se você trabalha com o pastejo rotacionado, que requer um controle mais preciso da altura do pasto.
Todas essas considerações nos levam a concluir que uma boa aposta do pecuarista é na diversidade, ou seja, plantar mais de um tipo de capim para o gado de corte. Dessa forma, cada forrageira suprirá as necessidades nutritivas do rebanho nas épocas em que se apresentam mais produtivas e terão substitutas para as fases de declínio.