
Por Maria Laura R. Gomes – Consultora e especialista no ramo do agronegócio
O setor agropecuário brasileiro iniciou 2025 com um recuo significativo nas exportações, totalizando US$ 10,95 bilhões em janeiro. Apesar do volume expressivo, a redução de 5,3% em relação ao mesmo período do ano passado levanta questionamentos sobre os desafios que o agronegócio nacional enfrenta no cenário global.
Principais Motivos da Queda
Um dos fatores que contribuíram para essa retração foi a redução nos embarques de produtos-chave, como a soja e a carne bovina, afetados por questões climáticas e oscilações na demanda internacional. A China, principal destino das commodities brasileiras, tem demonstrado sinais de desaquecimento econômico, reduzindo importações e impactando diretamente as vendas externas do Brasil.
Além disso, a valorização do real frente ao dólar tem diminuído a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional. Isso se soma às barreiras comerciais impostas por alguns países, especialmente na Europa, que têm reforçado exigências ambientais e sanitárias.
Impacto no Setor e Projeções
Apesar da queda, o agronegócio segue como um dos pilares da economia brasileira. O Brasil continua sendo um dos principais fornecedores de alimentos do mundo, e as projeções indicam que o setor pode se recuperar nos próximos meses com a intensificação da colheita da safra de grãos, que tende a impulsionar as exportações.
Outro ponto positivo é a diversificação dos mercados compradores. Com a China reduzindo sua demanda, o Brasil tem buscado fortalecer relações comerciais com outros países da Ásia, Oriente Médio e África. Esse movimento é fundamental para reduzir a dependência de um único parceiro comercial.
Oportunidades e Desafios
Para enfrentar os desafios do cenário atual, é essencial que o setor invista em tecnologia e sustentabilidade, atendendo às novas demandas globais por produção agropecuária mais responsável. A adoção de práticas sustentáveis e o uso de inovação no campo podem ser diferenciais para ampliar a presença brasileira no mercado externo.
Análise e Perspectivas Futuras
Como especialista no setor, vejo que a volatilidade do mercado internacional exige uma postura estratégica mais proativa do Brasil. A diversificação de mercados é fundamental, mas também precisamos avançar na agregação de valor aos produtos exportados. Hoje, grande parte das exportações do agronegócio ainda está baseada em commodities, e investir em processamento e industrialização pode elevar nossa competitividade global.
Além disso, a busca por certificações ambientais e rastreabilidade dos produtos deve ser encarada como uma oportunidade, e não um obstáculo. Países europeus e asiáticos têm exigido maior transparência na produção, e aqueles que se adaptarem a essas exigências poderão acessar nichos mais rentáveis e diferenciados no mercado externo.
Outro ponto crucial é a modernização da infraestrutura logística. O alto custo do transporte interno no Brasil ainda compromete a competitividade dos produtos agropecuários. Investimentos em rodovias, ferrovias e portos são fundamentais para reduzir custos e otimizar a distribuição das exportações.
Por fim, vejo a necessidade de um alinhamento mais efetivo entre produtores, governo e instituições financeiras para facilitar o acesso a crédito e fomentar inovação tecnológica. A agricultura de precisão, o uso de biotecnologia e a digitalização do campo podem melhorar a produtividade e reduzir desperdícios, tornando o Brasil ainda mais eficiente e sustentável.
O agronegócio brasileiro tem um potencial extraordinário, mas precisa se adaptar rapidamente às novas realidades do mercado. Com planejamento estratégico, inovação e políticas assertivas, podemos não apenas recuperar os números das exportações, mas fortalecer o Brasil como um líder global no setor agropecuário.