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Oscilações do dólar: o impacto no desenvolvimento do agronegócio

Por Maria Laura R. Gomes

No coração da economia brasileira, o agronegócio segue como protagonista, representando cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) e sendo responsável por um superávit robusto na balança comercial. Contudo, a desvalorização do real, que impulsiona a alta do dólar, tem desenhado um cenário desafiador, especialmente para os pequenos e médios produtores.

Quando o Dólar Fica Mais Forte

A princípio, a valorização do dólar parece vantajosa para o agronegócio, pois os produtos brasileiros se tornam mais competitivos no mercado internacional. Soja, milho, café e carnes, pilares da exportação agropecuária, ganham destaque devido ao custo reduzido em moeda estrangeira. Dados do Cepea/USP mostram que, em 2023, exportadores brasileiros colheram bons frutos graças à competitividade cambial.

Entretanto, o brilho do dólar forte esconde uma sombra de custos elevados. A produção agrícola no Brasil é altamente dependente de insumos importados, como fertilizantes, defensivos agrícolas e máquinas. Com o dólar em alta, o preço desses produtos dispara, comprimindo as margens de lucro dos produtores.

Os Pesos no Bolso do Produtor

O Brasil importa cerca de 85% dos fertilizantes utilizados em suas lavouras, que representaram, em média, 30% do custo total de produção em 2023. Cada alta na cotação do dólar reflete diretamente no custo de insumos essenciais, dificultando a vida de quem trabalha para alimentar o país.

Outro obstáculo é a dependência de crédito agrícola. Com a inflação em alta e os juros elevados, financiar uma safra se torna ainda mais caro. Pequenos e médios produtores, muitas vezes sem acesso a recursos próprios, enfrentam o dilema entre produzir com custos mais altos ou reduzir suas operações.

Ações do Governo e Seus Impactos Negativos

Embora o governo tenha adotado algumas medidas para lidar com o impacto cambial no setor, a execução e os resultados têm deixado a desejar, ampliando os desafios enfrentados pelos produtores rurais, especialmente os de menor porte. Entre os pontos críticos estão:

  1. Falta de Efetividade no Plano Safra: Apesar das promessas de crédito subsidiado, muitos pequenos produtores reclamam da burocracia excessiva para acessar os recursos e da insuficiência dos valores liberados, que muitas vezes não acompanham a inflação dos insumos.
  2. Tributação Excessiva sobre Insumos: A carga tributária sobre fertilizantes e defensivos, ainda que com algumas isenções pontuais, continua elevando os custos. Em momentos de alta cambial, a falta de políticas mais agressivas de desoneração agrava o problema.
  3. Dependência Externa Sem Estratégia: A ausência de um plano nacional robusto para estimular a produção local de insumos deixa o Brasil vulnerável às oscilações do dólar e às instabilidades do mercado internacional.
  4. Pouca Fiscalização nos Programas de Apoio: Iniciativas como o Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) têm enfrentado problemas de transparência e ineficiência, com recursos muitas vezes não chegando aos pequenos produtores que mais necessitam.
  5. Política Cambial Instável: A falta de clareza na gestão econômica do governo gera incertezas no mercado, elevando ainda mais o custo dos financiamentos e a imprevisibilidade para os produtores.

O Consumo Interno Sente o Impacto

Os reflexos do dólar valorizado vão além do campo e chegam ao consumidor final. O aumento nos custos de produção frequentemente é repassado para os preços dos alimentos, pressionando a inflação e diminuindo o poder de compra da população. Produtos básicos como arroz, feijão e carnes, que compõem a mesa do brasileiro, tornam-se mais caros, criando um ciclo que desafia toda a economia.

Saídas Estratégicas para o Setor

Em um cenário de instabilidade cambial, planejamento e inovação são as chaves para o sucesso. Confira algumas estratégias que podem ajudar o setor a mitigar os efeitos da alta do dólar:

  1. Proteção Cambial: O uso de instrumentos de hedge pode oferecer previsibilidade financeira, protegendo produtores contra variações abruptas do câmbio.
  2. Diversificação de Mercados: Expandir os destinos de exportação reduz riscos e amplia as oportunidades comerciais.
  3. Tecnologia no Campo: Adotar soluções tecnológicas para otimizar a produtividade e reduzir custos é essencial para enfrentar períodos de alta nos insumos.
  4. Produção Nacional de Insumos: Incentivar a indústria local de fertilizantes e defensivos agrícolas pode diminuir a dependência de importações, fortalecendo a economia nacional.

O Desafio de Equilibrar Forças

O agronegócio brasileiro, embora resiliente, precisa enfrentar os desafios impostos por um mercado cambial volátil e políticas públicas insuficientes. A falta de ações governamentais eficazes para mitigar os impactos das oscilações cambiais tem sobrecarregado os produtores, colocando em risco a sustentabilidade do setor.

Investir em políticas públicas que desonerem os insumos, criem mecanismos de apoio efetivo e promovam a autossuficiência na produção agrícola são passos fundamentais. Exemplos internacionais, como o incentivo massivo à produção de insumos nos Estados Unidos por meio de subsídios, ou o modelo de financiamento simplificado na Europa, mostram que estratégias bem elaboradas podem blindar os produtores contra oscilações cambiais. A ausência de medidas similares no Brasil reflete a falta de prioridade do governo em sustentar o setor diante das adversidades.

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