Os efeitos negativos do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas devem ser sentidos pela agricultura brasileira, desde a entrega de tecnologias à paralisação de startups. O agricultor Ari Fischer mora há 30 anos no norte de Israel, no kibutz Kfar Haruv, onde soldados do exército israelense se instalaram para proteger os produtores locais, como ele conta à Globo Rural.
Até agora, além dos raptos e assassinato de civis, a comida de animais, como as vacas, foi incendiada, afetando o fornecimento, por exemplo, de leite na comunidade. Outros 100 agricultores morreram em outro kibutz, em Beeri, Sul do país.
Os kibutz são comunidades rurais, que estão espalhadas de Norte à Sul do país. No local onde mora Fischer se cultiva oliveiras, cereais, como trigo e milho, além de frutas, entre elas
A convocação de milhares de jovens para defender Israel no conflito tem potencial de paralisar as startups, que são uma marca do país. Esse possível efeito colateral, inusitado, tem uma razão: essas empresas inovadoras são criadas e gerenciadas por jovens empreendedores israelenses.
“São rapazes que acabaram de sair do Exército, abrem e trabalham nessas startups. Eles fazem parte do contingente a ser convocado, ou que já está no campo de batalha”, disse ao Valor a diretora da Câmara Brasil-Israel de Comércio, Cila Schulman.
Para ela, no momento, esse setor econômico é o mais “vulnerável” ao conflito, porque pode parar e travar parte dos negócios internacionais do país, que carrega a alcunha de “Startup Nation”.
Na avaliação de Schulman, as startups maiores, com sedes estabelecidas fora de Israel, têm fôlego para se reorganizar, mas as de menor porte e empresas de venture capital ficarão à mercê dos desenrolar do conflito e podem parar no médio prazo. “Nosso temor maior na Câmara, além da questão humanitária, é na possível paralisação desses segmentos”, acrescentou.
Outro impacto esperado, mas ainda difícil de estimar, é nos negócios envolvendo a importação de tecnologias de Israel pelo Brasil. Pode haver gargalos no fornecimento de produtos e também consolidação de negócios.
Tecnologia e fertilizantes
O Brasil importa insumos para fertilizantes de Israel e tecnologia agrícola, e o país do Oriente Médio compra carne bovina brasileira e acabou de abrir seu mercado ao frango produzido aqui.
“Hoje, há 300 empresas israelenses fazendo negócio no Brasil, e a maior parte delas é do agro e da tecnologia agrícola. Irrigação é um dos carro-chefe, além da indústria de sementes, de drones e de identificação de queimadas, por exemplo”, afirmou Schulman.
No caso do insumos para fertilizantes, o maior impacto deve ser no segmento de derivados de fosfato e potássio, que representam, 18% e 9%, respectivamente, do volume total importado pelo Brasil em 2022, segundo a consultoria StoneX.
Num primeiro momento, não deve haver impacto no envio desses produtos ao Brasil, segundo o analista da StoneX, Rafael Yamamoto, mas a eventual intensificação do conflito forçará a uma revisão das dinâmicas comerciais com Israel.
As vendas de fertilizantes israelenses ao Brasil saíram de US$ 1,5 bilhão em 2021, para US$ 4 bilhões, reflexo da guerra entre Ucrânia e Rússia. Os dois países forneciam ao Brasil, mas o conflito atrapalhou os negócios e Israel se tornou uma opção de fornecimento, de acordo com o adido de Agronegócios e Água da Embaixada de Israel no Brasil, Ari Fischer.
No curto prazo, segundo ele, deve haver a paralisação do transporte aéreo de equipamentos agrícolas, como sensores de inteligência artificial para agricultura, importados pelo Brasil.