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Por dentro do cocho – Por que utilizar aditivos em suplementos para bovinos de corte no sistema a pasto?

Aditivos em suplementos para bovinos de corte

No Brasil, a criação de bovinos de corte ocorre, em sua maior parte, em pastagens, o que torna a forragem o principal alimento e grande responsável em fornecer proteína, energia, minerais e vitaminas para atender as exigências dos animais. No entanto, sabemos que somente a forragem não é suficiente para atender as demandas do sistema produtivo. Como as margens da atividade diminuem com o passar dos anos, precisamos cada vez mais encurtar o ciclo de produção, produzindo mais em menos tempo. Nesse sentido, é impossível não pensar na adoção de tecnologias que permitam explorar ganhos adicionais sobre os animais em pastejo. A suplementação de animais a pasto tem como objetivo corrigir a deficiência de nutrientes da forragem, aumentar a capacidade de suporte da forragem e ainda fornecer aditivos que permitam melhorar o ambiente ruminal, favorecendo a utilização do alimento consumido (adaptado de REIS et al., 2004).

No caso dos ruminantes mantidos em pastagens, a energia e proteína que o animal utiliza para seu crescimento vem da fermentação da forragem, que através da ação dos microrganismos presentes no rúmen, estimula a produção dos ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e proteína microbiana, que são – respectivamente – as principais fontes de energia e proteína para os ruminantes.

Os principais ácidos graxos de cadeia curta produzidos no rúmen são: ácido acético, ácido butírico e ácido propiônico, sendo que, quanto maior o consumo de volumoso maior é a proporção de ácido acético, devido o aumento na ação das bactérias celulolíticas (responsáveis pela degradação de fibra). Como o acetato e butirato são produtos mais oxidados do que o propionato, durante sua produção ocorre um maior gasto de energia com a liberação de hidrogênio. Parte desse hidrogênio é capturado por bactérias metanogênicas e convertidos em metano (ARCURI et al., 2006). Esse metano produzido é responsável pela perda de 2 a 12% de energia consumida pelo animal (MORAIS et al., 2006), ou seja, quanto maior a produção de metano, menor é a eficiência no processo de produção de energia para o animal.

Dito isso, podemos começar a nossa conversa sobre como a suplementação, associada a um aditivo, se torna um excelente pacote tecnológico.

O uso de aditivos tem como objetivo a manipulação da população de microrganismos ruminais, melhorando assim a produção animal. Isso ocorre, pois, os aditivos tendem a atuar contra bactérias gram-positivas, selecionando bactérias ruminais que favorecem a produção de ácido propiônico (bactérias gram-negativas), diminuindo a produção de ácido acético e butírico e assim, o aporte energético para que o animal passe a ser mais eficiente.

Os benefícios dos aditivos para bovinos são diversos e, muitas vezes, associados somente a dietas com alta quantidade de concentrado como, por exemplo, dietas de confinamento e terminação intensiva a pasto (TIP). Como os aditivos atuam contra bactérias gram-positivas (que degradam fibras), podemos ter a falsa impressão de que sua utilização em animais a pasto não apresentaria grandes benefícios. Então, como explicar os diversos estudos que apontam um melhor desempenho em animais que consomem aditivos no pasto? Além das várias observações de campo, mostrando aumento no GMD com o uso de aditivos?

Os maiores benefícios observados, quando utilizamos aditivos em animais a pasto, estão muito relacionados ao aumento na produção de propionato, resultando em mais energia para o animal, além de atuarem na modulação da quebra de proteína no rúmen, ou seja, menos proteína é degradada no rúmen, fazendo com que maior quantidade de proteína escape para intestino delgado (proteína metabolizável) e, com isso, a proteína é melhor aproveitada pelo animal.

Então, o que são aditivos?

O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), através da IN 15/2009, define como aditivo os seguintes produtos destinados à alimentação animal: substâncias, micro-organismo ou produto formulado, adicionado intencionalmente aos produtos, que não é utilizada normalmente como ingrediente, tenha ou não valor nutritivo e que melhore as características dos produtos destinados à alimentação animal ou dos produtos animais, melhore o desempenho dos animais sadios e atenda às necessidades nutricionais ou tenha efeito anticoccidiano.

Hoje, os principais aditivos trabalhados no campo são: antibióticos ionóforos, antibióticos não ionóforos e óleos funcionais.

  • Antibióticos ionóforos

Os ionóforos são produzidos principalmente por bactérias do gênero Streptomyces, e inicialmente foram utilizados para controlar parasitas intestinais (coccidioses) em aves.

Os ionóforos atuam sobre as bactérias gram-positivas, alterando o equilíbrio entre o meio interno e externo da célula através do transporte de íons. As bactérias tentam manter o equilíbrio no interior da célula, através da bomba iônica, e passam a utilizar o sistema de transporte para manter o equilíbrio nas células, gastando as reservas energéticas. A bomba iônica não consegue funcionar corretamente, aumentando a pressão osmótica e matando a bactéria (RUSSEL & STROBEL, 1989). Isso ocorre nas bactérias gram-positivas devido à presença da parede celular, diferente das bactérias gram-negativas que, além da parede celular, apresentam uma membrana externa.

Mais de 120 ionóforos já foram descritos, mas os principais utilizados para bovinos no Brasil são: monensina e salinomicina. O modo de atuar é basicamente o mesmo, o que os diferenciam é a afinidade por determinados cátions e o número de trabalhos científicos.

  • Antibióticos não ionóforos

Hoje, os antibióticos não ionóforos mais trabalhados a campo são: virginiamicina e flavomicina.

A atuação da virginiamicina ocorre no interior das bactérias gram-positivas (aeróbias e anaeróbias) ligando-se às subunidades 50S dos ribossomos de forma específica e irreversível, inibindo a formação de ligações pepetídicas durante a síntese proteica, ocasionando diminuição no crescimento (bacteriostase) e ainda morte da célula bacteriana (bactericida) (COCITO, 1979). Os efeitos da virginiamicina são semelhantes aos dos ionóforos, mesmo o mecanismo de ação sendo diferente.

Já a flavomicina é um inibidor da síntese da camada peptidoglicana, que atua primariamente contra bactérias gram-positivas e apresentam parede externa formada por peptidoglicanos, permeável a esse aditivo (HUBER; NESEMANN, 1968, adaptado de SANCHES, 2014). A flavomicina atua sobre bactérias “hiper produtoras de amônia” (HAPs) (RUSSEL et al., 1991, adaptado de SANCHES, 2014), o que tende a melhorar a eficiência proteica do animal, uma vez que essas bactérias atuam na rápida fermentação de aminoácidos e peptídeos, que eleva a concentração de amônia no rúmen e corrente sanguínea, podendo aumentar a perda de nitrogênio através da urina (Sanches, 2014).

 Óleos Funcionais

            Os óleos funcionais são lipídeos extraídos de plantas, com funções semelhantes aos ionóforos e que podem ser utilizados em sistemas convencionais e orgânicos.

             A atuação ocorre entre as membranas lipídicas das bactérias gram-positivas, alterando o gradiente de íons dos microrganismos e, assim, reduzem o crescimento das bactérias, devido ao elevado gasto energético realizado para manter e regularizar o desequilíbrio iônico. Dessa forma, também conseguem promover uma fermentação mais eficiente.

O que deve ser considerado na hora de escolher um aditivo?

A partir do momento em que se compreende o modo de ação de cada aditivo, realizando um planejamento nutricional que definirá qual tipo de suplementação será utilizada, é possível escolher o aditivo que se encaixa melhor em cada realidade, sempre levando em consideração o melhor custo-benefício, tanto em relação à suplementação, quanto em relação ao aditivo.

A escolha do ionóforo deve considerar o tipo de suplementação adotada no sistema de cada fazenda, uma vez que a monensina restringe muito o consumo e, por isso, deve ser evitada em suplementação mineral. Já em proteinados de baixo consumo, em que o propósito é regular o consumo, ela se torna uma excelente opção. Outro ponto importante é considerar se o suplemento será consumido por equinos (ou se há o risco do consumo), pois os ionóforos são tóxicos, e a salinomicina se apresenta como a mais fatal quando consumida por estes animais, mesmo em pequenas quantidades.

Os antibióticos não ionóforos e os óleos funcionais não restringem o consumo, ao contrário dos ionóforos, ou seja, podem ser usados em suplementação mineral sem nenhum problema. Também, diferente dos ionóforos, a virginiamicina, a flavomicina e os óleos funcionais não são tóxicos para equinos, um ponto que deve ser visto com muita atenção da porteira para dentro, pois sabemos que em boa parte das fazendas é muito comum esses animais se alimentarem no mesmo cocho dos bovinos.

No caso da flavomicina, a atuação dela sobre bactérias “hiper produtoras de amônia” pode ser benéfica em situações em que os animais consomem forragens com altos teores de proteína, como pastagens de aveia e azevém, ou ainda, no período de transição seca-águas, momento em que os “brotos” apresentam elevada quantidade de proteína e, com isso, observa-se elevada incidência de diarreia nos animais.

Cada vez mais as tecnologias estão ao alcance dos pecuaristas, algumas vezes sem a necessidade de grandes investimentos ou desembolso. Observamos também que a pecuária caminha para um futuro em que os erros não serão permitidos, e a adoção de novas tecnologias se mostra uma grande aliada nesse quesito.

O uso de aditivos não requer mudanças no operacional da fazenda, pois podem ser utilizados em qualquer tipo de suplementação; promovem um ganho de peso adicional na faixa de 60 a 120 gramas/cabeça/dia, a um custo adicional (dependendo do aditivo) de R$ 0,1 a 0,3/cabeça/dia. Nesse cenário, o animal precisaria ganhar de 2 a 7 gramas a mais para pagar o investimento.

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