Os ionóforos (grupo do qual pertence a monensina) têm sido muito utilizados na bovinocultura brasileira como aditivo promotor de crescimento em confinamento com o objetivo de aumentar a eficiência alimentar e/ou a taxa de ganho de peso, ou como aditivo anticoccidiano auxiliando na prevenção e controle das coccidioses causadas por Eimeria bovis e Eimeria zuerni. Trata-se de compostos poliéteres carboxílicos que caracterizam-se pelo largo espectro de ação e pela capacidade praticamente nula de levar ao desenvolvimento de resistência bacteriana.
São geralmente bacteriostáticos e seu mecanismo de ação é sobre sua habilidade em alterar o fluxo de cátions através da membrana dos microrganismos. Resumidamente, o ionóforo se liga a íons monovalente (Na+ e K+) e/ou bivalentes (Mg++ e Ca++), transporta-o através da membrana celular para dentro da bactéria, e esta por meio do mecanismo da bomba iônica, na tentativa de manter sua osmolalidade, utiliza sua energia de forma excessiva, até deprimir as suas reservas, o que afeta o crescimento das bactérias gram-positivas, favorecendo as gram-negativas.
Os ionóforos possuem boa palatabilidade, diminuem a incidência de acidose, possuem excelente estabilidade física e química em todos os tipos de rações, suplementos e alimentos líquidos e quando administrados com a função anticoccidiana podem ser utilizados junto com aditivos melhoradores de desempenho.
Quando fornecidos aos ruminantes, atuam sobre as bactérias do rúmen e do intestino grosso, favorecendo o desenvolvimento de algumas bactérias, de modo que o metabolismo da bactéria beneficiada pode afetar o desempenho do animal, proporcionando vantagens metabólicas ou nutricionais.
Em dietas que contêm elevados níveis de carboidratos facilmente fermentáveis, a monensina geralmente leva a diminuição da ingestão de alimentos, sem afetar o ganho de peso, melhorando assim a conversão alimentar, porém quando os ruminantes são alimentados com dietas contendo elevadas quantidades de volumosos, a monensina não diminui a ingestão, mas melhora o ganho de peso e a conversão alimentar, contribuindo assim para um melhor desempenho dos animais sob tais formas: aumenta o metabolismo energético do rúmen; melhora o metabolismo do nitrogênio no rúmen; previne desordens metabólicas, como a acidose láctica crônica, a cetose e o timpanismo.
Sabe-se também que a monensina influência o metabolismo dos microorganismos ruminais, tendo como resultado primário maior proporção de ácido propiônico e menor de ácido acético produzidos no rúmen pela fermentação de carboidratos.
A monensina atua sobre as bactérias proteolíticas, diminuindo a degradação desnecessária pelas mesmas. Assim sendo, as proteínas de maior valor biológico passam pelo rúmen sem serem degradadas e promovem um ganho adicional ao animal, que recebe uma proteína melhor e em maior quantidade, uma vez que não existem as perdas do processo de proteólise e síntese proteica bacteriana.
Principais efeitos
Melhor eficiência alimentar e performance animal
A monensina aumenta a performance animal, principalmente devido às alterações na fermentação ruminal. Algumas das respostas das performances podem ocorrer por mudanças metabólicas que não envolvam alterações na fermentação ruminal (efeitos pós-ruminais).
Alteração na produção de gases
Com a utilização de monensina sódica observa-se uma redução da população de microrganismos gram-positivos, e um aumento das gram-negativas, ocorrendo, portanto, uma diminuição da produção de acetato, butirato e H2 (precursores do gás metano). Além disso, as bactérias gram-negativas utilizam o H2 para formar propionato, reduzindo indiretamente a formação do gás metano e melhorando o metabolismo energético do rúmen.
Efeito sobre a digestibilidade
Quando ruminantes são alimentados com forragem, o pH no rúmen permanece próximo da neutralidade. Isso ocorre devido ao estímulo que a fibra exerce sobre o processo da ruminação. Como a monensina diminui a concentração de lactato no rúmen, limita a queda do pH nesse ambiente, propiciando melhores condições para o desenvolvimento de bactérias celulolíticas. Os organismos celulolíticos crescem com um pH em torno de 6,7. Níveis acima ou abaixo deste valor podem ser prejudiciais.
Melhora na utilização de proteína
A utilização da monensina altera o desenvolvimento de algumas bactérias que promovem a proteólise e deaminação no rúmen, reduzindo, portanto, a degradação das proteínas nesse compartimento, permitindo a sua digestão pós ruminal. Dessa forma, o uso da monensina também torna-se interessante quando trabalha-se com alimentos ricos em proteínas de elevado valor biológico.
Modificação do enchimento ruminal e taxa de passagem
O enchimento do rúmen e a taxa de passagem têm influência direta sobre o período de permanência dos alimentos no rúmen, afetando, assim, a fermentação microbiana e a utilização do nitrogênio, modificando, consequentemente, os produtos originados da fermentação. Alguns estudos indicam que a monensina sódica diminui a taxa de passagem dos alimentos, contribuindo para o enchimento ruminal.
Controle de coccidiose
A utilização da monensina como anticoccidiano de forma preventiva propicia que qualquer falha nas medidas de manejo evite a proliferação massal da doença no rebanho.
Os anticoccidianos são antibióticos fornecidos por via oral aos bovinos. Atuam nos intestinos delgado e grosso, eliminando os parasitas por contato direto. Por isso, esses compostos devem estar presentes nos alimentos concentrados fornecidos para os animais nas diferentes idades.
Nos bovinos leiteiros, a adição é mais comum e a recomendação é que os anticoccidianos sejam incluídos nas rações iniciais, fornecidas para os bezerros até o desmame. Posteriormente, esse ionóforo deve ser incluído nos concentrados fornecidos durante a recria, até que os animais atinjam a idade adulta.
Para bovinos de corte, o ideal é ofertar o anticoccidiano para os animais jovens antes do desmame, incluindo-os nas misturas protéico/energéticas fornecidas nos creep-feedings. Sugere-se, também, a inclusão dos anticoccidianos em misturas múltiplas fornecidas para as matrizes, pois, embora elas sejam pouco afetadas pela coccidiose, caracterizam-se como reservatórios do parasita.
Para os animais que serão recriados, a sugestão é a utilização de misturas múltiplas protéico/energéticas e de protéicas ou energéticas com a inclusão de anticoccidianos no período do verão.
Vale ressaltar também que bovinos alimentados de acordo com as recomendações do fabricante não apresentam monensina detectável nos tecidos comestíveis, não havendo tempo de carência para o abate.