Principais pragas iniciais do milho
Entre as pragas que causam mais impactos nas lavouras de milho, principalmente durante as fases iniciais da cultura, estão o percevejo barriga-verde, a cigarrinha do milho, e a diabrotica. Com alta mobilidade, facilidade para se esconder entre as palhadas, podendo causar impactos de longo prazo, o ataque desses insetos logo após a germinação da planta pode acarretar em perdas que serão sentidas ao longo da safrinha.
Percevejo barriga-verde
Existem duas espécies muito semelhantes de percevejos, conhecidas por barriga-verde: Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus. O Dichelops sp. é uma praga inicial, considerada importante para as culturas de milho e trigo.
Em lavouras de milho, os adultos e as ninfas introduzem seus estiletes através da bainha até folhas internas das plântulas. O ataque causa lesões que provocam deformações, perfilhamento intenso, e tornam as plantas improdutivas.
Isso acontece porque, no ato desta “picada”, o inseto contamina as plântulas com toxinas. Sob altas populações, o número de picadas acarreta na morte da planta.
Uma característica específica do ataque desse inseto é o halo amarelo formado em torno do local da perfuração.
Dependendo da severidade do ataque e do tamanho da planta, ela pode ser morta de forma direta, com o corte da planta.
Impactos do percevejo barriga-verde
Em uma avaliação de escala de danos que vai do 0 ao 4, é possível identificar qual é a severidade do ataque de percevejo nas plantas de milho e qual é o impacto na redução de produtividade (%).
É importante reforçar que, plantas que apresentam nota 3 e 4 serão difíceis de recuperar, e além disso, indicam que a lavoura pode estar com alta pressão do inseto.
Como manejar o percevejo barriga-verde?
- O nível de infestação antes do plantio deve ser observado. Esta avaliação deve começar antes da colheita da soja e prosseguir até o encerramento da colheita. O campo deve ser monitorado e o número de insetos residentes por metro quadrado deve ser contabilizado. Ao identificar focos de percevejos na palhada o uso de inseticidas de amplo espectro e contato pode ser uma excelente alternativa para reduzir a população inicial com menor custo.
- Monitorar a cada 3 dias. Ao identificar um inseto por m2 nas plantas durante a emergência do milho, deve ser realizada uma aplicação de inseticida para reduzir a população ou eliminar as sobras do manejo pré-plantio.
O tratamento de sementes é fundamental
O tratamento de sementes é fundamental para o manejo dessa praga. Esse método requer que o inseto faça a ”picada de prova” para ser controlado ainda na fase inicial da lavoura.
Dicas para o Tratamento de sementes:
- Quanto maior a solubilidade do produto na semente, menor a exigência de umidade no solo para a absorção da planta. Em condições de alta umidade, pode haver redução de residual do produto, o que antecipará a necessidade de pulverização na parte aérea.
- Os produtos com baixa solubilidade em condição de menor disponibilidade de água no solo também vão antecipara a aplicação.
Cigarrinha do milho
A cigarrinha (Dalbulus maidis), é considerada cada vez mais importante na produção de milho por conta de sua ligação com a transmissão de vírus, e de bactérias molicutes. Essa característica faz com que a cigarrinha seja a principal responsável pela disseminação de duas doenças que impactam drasticamente na produtividade das lavouras: o enfezamento pálido e o enfezamento vermelho do milho.
Identificando a cigarrinha do milho
A cigarrinha ataca a cultura do milho especialmente em estágios iniciais, causando quedas significativas no rendimento de grãos. É difícil notar quando seus ataques ocorrem, mas é o modo como ela ataca que deve ser compreendido: quando a cigarrinha se alimenta da planta, ela deposita, através de seu estilete, os vírus e bactérias. E é nesse processo que a transmissão das doenças ligadas ao complexo de enfezamento é facilitada.
O inseto mede aproximadamente 0,5 cm, possui cor branco-palha com duas manchas pretas na parte dorsal da cabeça e duas fileiras de espinhos ao longo das tíbias posteriores.
Complexo de enfezamento
O enfezamento vermelho é causado pela bactéria molicutes Candidatus Phytoplasma asteris, e o enfezamento pálido, causado pela molicutes Spiroplasma kunkelii. Em ambos os casos os patógenos infectam plantas sadias por meio da saliva da cigarrinha no momento em que a mesma se alimenta da seiva.
No início, o enfezamento vermelho é caracterizado por clorose marginal das folhas do cartucho, que na sequência se expressa com o avermelhamento das pontas das folhas inferiores. As folhas que se desenvolvem demonstram diferentes gráus de clorose e avermelhamento, e diminuição do tamanho.
Em geral, plantas infectadas com enfezamento vermelho apresentam encurtamento dos internódios, nanismo, multiespigamento ou falta de espigas, e espigas com má formação de grãos
O enfezamento pálido expressa sintomas muito semelhantes aos do enfezamento vermelho. Sua principal diferença está no sintoma inicial, com uma clorose mais acentuada na base foliar. Os sintomas do enfezamento aparecem em um período de 7 a 10 dias após a infecção.
Esse complexo de doenças pode impactar em perdas de cerca de 30% na produtividade do milho. Isso acontece porque as múltiplas espigas geradas na planta apresentam menor tamanho e grãos leves – denominados “chochos”.
Lavouras de milho instaladas tardiamente são as mais propensas ao complexo de enfezamento porque a segunda safra coincide com as altas populações do vetor.
Temperaturas acima de 17°C durante a noite e 27°C durante o dia favorecem a multiplicação da cigarrinha.
Outros fatores que podem favorecer a praga, são:
- Plantas de milho tiguera ou voluntaria.
- Lavouras de milho semeados em diferentes épocas.
- Nível de susceptibilidade dos híbridos de milho.
Manejo da cigarrinha
A principal estratégia para o manejo da cigarrinha do milho é a junção dos métodos culturais e químicos.
É importante:
- Eliminar o milho tiguera e plantas voluntárias da área.
- Realizar o tratamento de semente com inseticidas sistêmicos.
- Evitar ao máximo prolongar a época de semeadura.
- Escolher híbridos com tolerância aos molicutes.
- Monitorar a lavoura constantemente para identificar a praga na área é essencial para a tomada de decisão sobre o início do manejo químico, que pode ser feito com produtos do grupo dos neonicotinoides.
- Quando a população da praga for muito elevada, o manejo deve ser combinado com produtos de contato e o uso de adjuvantes.
Diabrotica speciosa
A Diabrotica speciosa é conhecida como “Vaquinha” ou “Brasileirinha” na sua fase adulta. É muito fácil reconhecer essa praga no campo.
Sua aparência é marcada pelas cores verde e amarela nas asas e a cabeça de cor tijolo. Em fase larval, período em que o inseto mais causa danos a cultura, a Diabrotica é chamada de “larva-alfinete”.
Com preferência por milho, essa praga se alimenta também de soja, batata, algodão, feijão e hortaliças.
Entendendo a diabrotica
A alimentação desse inseto interfere na sua produção de ovos. Quando se alimenta de feijão, por exemplo, essa praga chega a produzir até seis vezes mais ovos do que quando se alimenta de milho.
Para ovipositar, a Diabrotica prefere solos escuros, com alta umidade e maior teor de matéria orgânica e argila: isso garante a sobrevivência das larvas no campo. Entre todas as culturas, o milho é a principal para oviposição desse inseto.
A temperatura também afeta diretamente a fisiologia da praga em fase adulta ou imatura. Na faixa de 18º a 32º, a sobrevivência dos ovos vai de 70% a 80%. Nesse cenário, o número de dias do ciclo total do inseto pode variar de 2 a 3 meses.
Ciclo da diabrotica
Oviposição: dentro de 28 e 52 dias, gerando de 400 a 1011 ovos.
Eclosão dos ovos: pode ocorrer entre 3 e 13 dias.
Fase larval: em até 30 dias o inseto passa por três instares.
Pupa: de 7 a 17 dias.
Impactos da diabrotica
Quando adulta, a Diabrótica se alimenta das folhas da planta do milho, mas não causa danos expressivos. O problema maior ocorre durante sua fase larval.
Após a oviposição no solo da lavoura, o principal alimento da larva é a raiz do milho. Essa ação predatória reduz o potencial do sistema radicular da planta, que perde a capacidade de absorver água e os nutrientes do solo, essenciais para o desenvolvimento da sua produtividade.
Em estágios de maior infestação da praga, as raízes ficam tão defasadas que a planta não consegue se manter em pé.
Se a planta for exposta a alta umidade ou a ventos fortes nessas condições, pode ocorrer o tombamento ou acamamento. Após a queda, quando a planta se levanta por esforços da raiz, fica evidente o sintoma de “pescoço-de-ganso”, principal indicador de ataques da “larva-alfinete”.
Essa busca por luz, que acarreta no movimento de escalada após a queda, faz com que a planta gaste energia, interferindo na produtividade.
Manejo da diabrotica
O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é a base principal do controle da Diabrotica speciosa, porém, seu manejo deve ser feito ainda em fase adulta. Após a multiplicação do inseto adulto, o volume de oviposições pode ser alto, e enquanto as larvas estiverem se desenvolvendo no solo, se alimentando da raiz do milho, não há manejo ou “remediação”.
A única maneira de manejar essa praga enquanto larva, é com a adoção de biotecnologia – milho transgênico – que expressa características de proteção às raízes da planta.