Os custos com alimentação representam, aproximadamente, 70-80% dos custos de produção em um sistema de terminação de bovinos, o que determina, na maioria das vezes, a competitividade desse sistema.
O aumento da eficiência alimentar é um dos maiores objetivos na pecuária de corte atual e vários suplementos alimentares podem contribuir para o melhor desempenho dos animais.
O uso de aditivos tem a finalidade de manipular a fermentação ruminal, aumentar a digestão e absorção dos nutrientes, resultando em melhor ganho de peso e eficiência alimentar e, como consequência, a redução da idade ao abate dos animais e maior produtividade do sistema.
Qual a função dos aditivos na alimentação dos bovinos
No Brasil, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) define aditivo como substância intencionalmente adicionada ao alimento, com a finalidade de conservar, intensificar ou modificar suas propriedades ou promover melhora no desempenho zootécnico de animais sadios, desde que não prejudique seu valor nutritivo.
Entre os aditivos utilizados na alimentação de bovinos, atualmente, estão os antibióticos ionóforos e não ionóforos, leveduras, probióticos, prebióticos e ácidos orgânicos. Aqui, discutiremos os aditivos mais utilizados na alimentação animal: aditivos antibióticos ionóforos e aditivos antibióticos não ionóforos.
Utilização de aditivos antibióticos ionóforos na alimentação de bovinos de corte
Aditivos antibióticos ionóforos passaram a ser utilizados como promotores de crescimento para bovinos desde 1975. Os ionóforos mais utilizados atualmente no Brasil são a monensina, salinomicina e lasalocida.
No rúmen, a monensina é altamente efetiva contra bactérias gram-positivas, alterando a permeabilidade e o fluxo de íons da membrana dessas bactérias, enquanto as gram-negativas são pouco afetadas. Dessa maneira, ocorrem alterações na flora ruminal, resultando em maior digestibilidade dos alimentos, na diminuição da proporção de metano produzido no rúmen e, consequentemente, em menores perdas de energia.
A inclusão da monensina nas dietas de confinamento de bovinos, de forma contínua, mostra uma melhora na eficiência alimentar e auxilia na redução do consumo de matéria seca, onde quanto maior a dose aplicada, maior é a redução do consumo.
Essas alterações podem ser observadas pelos dados na tabela abaixo (tabela 1).
Em outro estudo, com utilização de monensina na dose média de 28,1 ppm, observou-se aumento de, em média, 2,5% no ganho médio diário, redução de 3% no consumo e, consequentemente, melhora na eficiência alimentar, nesse caso, em 6,4%.
Utilização de aditivos antibióticos não ionóforos na alimentação de bovinos de corte
Os aditivos antibióticos não ionóforos, representados pela virginiamicina, também são utilizados para controlar a população de bactérias gram-positivas no rúmen, porém possuem mecanismo de ação diferente da monensina, atuando no bloqueio da síntese de proteína, através da ligação a subunidade ribossomal 50S.
A virginiamicina é ativa contra Streptococcus bovis e Lactobacillus ruminis, prevenindo o desenvolvimento de níveis prejudiciais de ácido láctico no rúmen. Com o controle das bactérias que atuam no processo de estabelecimento de episódios de acidose ruminal e com um ambiente ruminal mais saudável, ela permite o aumento da produção de ácido propiônico no rúmen, consequentemente aumentando o aporte de energia proveniente dos ácidos graxos voláteis (Rogers et.al. 1995; Salinas-Chavira et.al. 2009). Com esse ambiente ruminal mais saudável, o animal obtém melhor desempenho, que se reflete em maior ganho de peso, melhor conversão alimentar e maior produção de carcaça.
Ao longo dos anos, os confinamentos brasileiros estão evoluindo e podemos destacar o aumento do teor de energia das dietas, o uso de ingredientes de melhor qualidade e a redução no teor de fibra das dietas como alguns fatores que abrem um cenário favorável para que os aditivos alimentares exibam todo seu potencial de ação.
De acordo com Silvestre e Millen (2020), em um estudo que avaliou a prática nutricional dos confinamentos no Brasil, 99,78% dos confinamentos utilizam algum aditivo alimentar e, mesmo com o aumento dos estudos sobre aditivos alternativos, os ionóforos continuam sendo os mais difundidos e utilizados pelos nutricionistas. Dentre os que participaram da pesquisa, 86% declararam utilizar a monensina como primeira opção, a uma dose média de 24,6 ppm. Como segunda opção de aditivo alimentar, 66% dos nutricionistas recomendaram a virginiamicina a uma dose média de 25 ppm.
No entanto, na última década, cresceram as recomendações dos nutricionistas para o uso associado de monensina e virginiamicina, devido a diversos estudos que suportam esse protocolo, como podemos observar na tabela abaixo.
Importância da estratégia alimentar adequada nas dietas do confinamento
Outro ponto marcante que mostra a evolução dos confinamentos do estudo citado anteriormente foi o aumento do peso de abate para todas as categorias nos últimos 10 anos, apresentando aumento médio de 11,8%. Como resultado, o tempo de cocho também aumentou para todas as categorias, como, por exemplo, para machos inteiros que, em 2009, a média de dias de cocho era de 84 dias e, hoje, a média está em 107 dias (Silvestre e Millen 2020).
No entanto, sabemos que, na fase final de terminação, temos um aumento da exigência de mantença pela composição de ganho, uma redução da ingestão de matéria seca (MS) e, consequentemente, menor consumo de energia. Sendo assim, nesse momento, torna-se importante utilizar estratégias que aumentem a concentração energética da dieta ou até mesmo estratégias que visem o aumento do consumo de matéria seca (CMS), como, por exemplo a adoção de diferentes protocolos de uso de aditivos ao longo do confinamento.
De maneira geral, a grande evolução no uso de aditivos alimentares nas dietas dos confinamentos brasileiros na última década ocorreu devido ao aumento do número de moléculas disponíveis no mercado, assim como o aumento da recomendação de uso pelos nutricionistas em diferentes doses e categorias.
Atualmente, as tecnologias geradas nos centros de pesquisa chegam com maior velocidade ao campo, permitindo, assim, que as ferramentas nutricionais sejam cada vez mais adotadas, possibilitando ganhos maiores de produtividade.