No mundo todo, a perda embrionária pode ser responsável pela maior perda econômica isolada para os produtores de bovinos. Com 40 milhões de vacas e novilhas de corte expostas anualmente à reprodução nos Estados Unidos, as perdas anuais devidas à mortalidade embrionária são superiores a 2,2 bilhões de reais. No Brasil, com mais de 70 milhões de vacas de corte anualmente em reprodução, as perdas causadas pela mortalidade embrionária podem ser duas vezes maiores.
Os mecanismos envolvidos no estabelecimento e manutenção da prenhez são complexos e, tomando por base a literatura, foram poucos os progressos alcançados nos últimos 90 anos para reduzir o desperdício de embriões.
As perdas embrionárias são definidas como as perdas que ocorrem entre a fertilização até o dia 42 da prenhez, quando a diferenciação e a implantação já ocorreram. As perdas que acontecem após o dia 42 são geralmente denominadas perdas fetais.
As perdas embrionárias são ainda divididas em duas categorias e classificadas como Mortalidade Embrionária Precoce (MEP; da fertilização até o dia 27) e Mortalidade Embrionária Tardia (MET; do dia 28 ao 42). A maior parte da mortalidade embrionária é representada pela mortalidade embrionária precoce, com relato de taxas variando de 20 a 40% em bovinos de corte. A mortalidade embrionária tardia ocorre em 3 a 14% de vacas e novilhas de corte.
Fatores genéticos que afetam a perda embrionária
As anomalias genéticas respondem por aproximadamente 10% das perdas embrionárias e geralmente resultam em falha na prenhez nas duas primeiras semanas. A expressão de genes letais pode causar a morte do embrião nos primeiros 5 dias da gestação. Um outro transtorno genético que contribui para a morte embrionária é um número anormal de cromossomos em algumas ou em todas as células embrionárias. Esta é a anomalia genética mais comum e geralmente resulta na morte embrionária.
As causas do número anormal de cromossomos incluem polispermia (quando mais de um espermatozóide fertiliza um óvulo) e erros meióticos nos gametas ou no embrião em desenvolvimento. Pode haver uma incidência mais elevada de polispermia quando as inseminações artificiais ocorrem mais próximas do momento da ovulação, não dentro do período ideal de 12 horas após o início do estro.
Em geral, os espermatozóides precisam de cerca de 6 horas no trato reprodutivo da fêmea para que ocorra a capacitação, antes que tenham capacidade de fertilização. Assim sendo, quando as inseminações ocorrem próximo do momento da ovulação, o ovócito está disponível para a fertilização, mas precisa esperar que ocorra a capacitação do espermatozóide. Durante este período de espera, o ovócito “envelhece” e começa a perder sua capacidade de bloquear a polispermia. Mesmo que o ovócito seja capaz de fazer o bloqueio, este envelhecimento parece resultar em um atraso ou interferência no desenvolvimento do embrião e, desta forma, diminui a qualidade do embrião.
Na verdade, a inseminação realizada mais próxima do momento da ovulação resulta em taxa de fertilização mais elevada, mas em qualidade embrionária menor. As inseminações mais próximas do início do estro podem resultar em taxas de fertilização mais baixas, mas sobrevivência embrionária mais alta. Juntos, estes fatos sugerem que é importante alguma seleção natural para a fertilização pelo espermatozóide “mais apto”. Há relatos de incidências mais altas de polispermia e aumento do número de cromossomos após a inseminação de vacas superovuladas.
Já sabemos há anos que a mestiçagem acentua virtualmente todos os aspectos da reprodução. Isto se deve ao valor genético aditivo e não aditivo que resulta da mestiçagem. Quando cruzamos duas raças, o valor genético aditivo destes cruzamentos resulta em uma progênie que é a média dos pais. Este valor genético aditivo é tudo o que obtemos com a mestiçagem para algumas características (como as características de carcaça). Contudo, o valor genético não aditivo destes cruzamentos resulta em melhorias na progênie, que é melhor do que a média dos pais (as características de produção são exemplos). Algumas vezes, o valor genético não aditivo destes cruzamentos resulta em melhoria tão dramática que a progênie é melhor em certas características do que qualquer um dos pais.
A reprodução é um dos exemplos em que o vigor híbrido da mestiçagem resulta em melhora no desempenho reprodutivo. É provável que nem toda esta melhora esteja relacionada com uma melhora na sobrevivência embrionária, mas pelo menos uma parte pode ter relação. As anomalias genéticas também podem causar mortalidade embrionária tardia (dia 27 a 42) ou mortalidade fetal (depois do dia 42 da gestação). A mortalidade fetal estava aumentada entre bovinos Hereford quando se comparou animais endogâmicos com os não endogâmicos. Além disso, com o aumento do nível de endogamia também aumentou o nível de mortalidade fetal.
Fatores nutricionais que afetam a perda embrionária
Efeitos da Energia e da Proteína. É provável que as deficiências nutricionais maiores das dietas de animais reprodutores tenham efeitos prejudiciais sobre a fertilidade. Há poucos dados experimentais relativos à nutrição que diferenciam a taxa de fertilização e a mortalidade embrionária. Sabemos, entretanto, que os níveis de energia e proteína da dieta desempenham papel no sucesso da gestação.
Sabe-se há bastante tempo que as vacas cobertas quando estão ganhando peso (aumentando o escore de condição corporal) têm taxas de prenhez mais elevadas do que as vacas que são cobertas quando estão perdendo peso. A diminuição dos níveis de progesterona após a cobertura pode ser responsável pela diminuição da fertilidade/ aumento da mortalidade embrionária entre as vacas cobertas durante o balanço energético negativo.
Um possível mecanismo pelo qual o balanço energético negativo poderia resultar em diminuição da produção subsequente está relacionado ao tamanho do folículo ovulatório. As novilhas que receberam altos níveis de energia tiveram taxa de crescimento maior dos folículos dominantes quando comparadas com as novilhas alimentadas com baixos níveis de energia. O tamanho do folículo ovulatório tem relação positiva com o estabelecimento e a manutenção da prenhez, bem como com a produção subseqüente de progesterona.
Pode-se fazer o manejo das vacas para que ganhem condição corporal determinando o seu escore corporal ao parto ou logo após, e fazendo o ajuste adequado das dietas. O uso de gordura na alimentação após a parição pode aumentar a densidade energética das dietas, mas esta prática não aumentou as taxas de concepção ao primeiro serviço, de tal forma que somente deve ser considerado quando for esta a fonte mais barata de energia.
Alguns pesquisadores concluíram que o fornecimento de gordura a vacas de corte durante aproximadamente 60 dias antes da parição pode resultar em uma melhora de 6,4% na taxa de prenhez durante a estação de monta seguinte. O mecanismo envolvido nesta melhora parece estar mais relacionado com um intervalo de anestro mais curto após o parto do que com um aumento da sobrevivência embrionária.
Devemos ter em mente que, para a maioria dos nossos rebanhos de vacas, iniciamos a fase reprodutiva muitas vezes durante o pico da lactação. Por causa das demandas da produção de leite sobre as necessidades energéticas, a maioria das vacas está exposta à reprodução durante a fase de balanço energético negativo. Vacas com elevada produção de leite podem sofrer balanço energético negativo ainda maior e aumento da mortalidade embrionária quando as condições da forragem são limitantes.
Tem sido mostrado que o excesso de proteína (especialmente a proteína degradável no rúmen) aumenta a mortalidade embrionária nas vacas. O aumento do metabolismo ruminal da proteína resulta em aumento do nitrogênio uréico e da amônia do sangue, e diminuição do pH uterino no dia 7 após o estro. Estes estudos sugerem que tanto as taxas de fertilização como a sobrevivência inicial do embrião (antes do dia 17) estão comprometidas, e que as causas prováveis são uma alteração da produção de hormônio (principalmente progesterona) e um pH uterino mais ácido. Os animais mantidos a pasto raramente estão expostos a excesso de proteína em suas dietas.
Casos extremos de consumo excessivo de proteína ocorrem quando os animais estão em pastos de alfafa e trigo. Os efeitos benéficos da suplementação de proteína foram relatados para bovinos alimentados com proteína não degradável no rúmen antes da parição ou durante a fase reprodutiva. Não é conhecido o mecanismo exato (ou os mecanismos) pelos quais a ingestão de proteína não degradável melhora a fertilidade, mas é provável que esteja ligado a diminuição da mortalidade embrionária.
Efeitos das Toxinas. O nitrato é um composto vegetal prevalente em épocas de estresse das plantas e que pode tornar-se um problema. O nitrato em si não é particularmente tóxico para os animais. Os nitratos consumidos pelos ruminantes são normalmente reduzidos à amônia, absorvidos e excretados, assim sendo convertidos pelas bactérias em proteína bacteriana. A intoxicação por nitrato ocorre quando o consumo na ração e na água é de tal ordem que os nitratos são convertidos em nitritos. Os nitritos se ligam à hemoglobina e diminui sua capacidade de transporte de oxigênio, o que poderia levar à morte embrionária em casos menos graves.
Devido ao mecanismo que leva à intoxicação por nitrato, os bovinos suspeitos de terem sido intoxicados devem ser manipulados o menos possível, o mais calmamente possível, para minimizar as suas necessidades de oxigênio. Altos teores de nitratos são muitas vezes encontrados em plantas que foram submetidas a estresse por más condições de crescimento, como seca, frio e tempo encoberto, danos provocados pelo granizo e geada.
Plantas como aveia, milheto, sorgo e milho são particularmente suscetíveis a altos teores de nitrato e devem ter seu conteúdo de nitrato testado antes do uso para pastejo/arraçoamento. As fontes de água também podem ser ricas em nitratos e fontes novas devem ser testadas. As dietas utilizadas na época de cobertura ou para vacas prenhes não devem ultrapassar 5.000 ppm de nitratos com base na matéria seca.
Fatores nutricionais que afetam a perda embrionária
Efeitos da Energia e da Proteína. É provável que as deficiências nutricionais maiores das dietas de animais reprodutores tenham efeitos prejudiciais sobre a fertilidade. Há poucos dados experimentais relativos à nutrição que diferenciam a taxa de fertilização e a mortalidade embrionária. Sabemos, entretanto, que os níveis de energia e proteína da dieta desempenham papel no sucesso da gestação.
Sabe-se há bastante tempo que as vacas cobertas quando estão ganhando peso (aumentando o escore de condição corporal) têm taxas de prenhez mais elevadas do que as vacas que são cobertas quando estão perdendo peso (Wiltbank et al., 1962). A diminuição dos níveis de progesterona após a cobertura pode ser responsável pela diminuição da fertilidade / aumento da mortalidade embrionária entre as vacas cobertas durante o balanço energético negativo (Folman et al., 1973).
Um possível mecanismo pelo qual o balanço energético negativo poderia resultar em diminuição da produção subseqüente está relacionado ao tamanho do folículo ovulatório. As novilhas que receberam altos níveis de energia tiveram taxa de crescimento maior dos folículos dominantes quando comparadas com as novilhas alimentadas com baixos níveis de energia (Armstrong et al., 2001). O tamanho do folículo ovulatório tem relação positiva com o estabelecimento e a manutenção da prenhez, bem como com a produção subseqüente de progesterona (Perry et al., 2005; 2007).
Pode-se fazer o manejo das vacas para que ganhem condição corporal determinando o seu escore corporal ao parto ou logo após, e fazendo o ajuste adequado das dietas. O uso de gordura na alimentação após a parição pode aumentar a densidade energética das dietas, mas esta prática não aumentou as taxas de concepção ao primeiro serviço, de tal forma que somente deve ser considerado quando for esta a fonte mais barata de energia. Com base em uma recente revisão da literatura, Hess et al. (2005) concluíram que o fornecimento de gordura a vacas de corte durante aproximadamente 60 dias antes da parição pode resultar em uma melhora de 6,4% na taxa de prenhez durante a estação de monta seguinte. O mecanismo envolvido nesta melhora parece estar mais relacionado com um intervalo de anestro mais curto após o parto do que com um aumento da sobrevivência embrionária.
O teor de gordura de uma dieta não deve ultrapassar 5% do total de matéria seca ingerida, devido aos potenciais efeitos negativos sobre a digestibilidade da fibra e o consumo (Coppock e Wilks, 1991).
Devemos ter em mente que, para a maioria dos nossos rebanhos de vacas, iniciamos a fase reprodutiva muitas vezes durante o pico da lactação. Por causa das demandas da produção de leite sobre as necessidades energéticas, a maioria das vacas está exposta à reprodução durante a fase de balanço energético negativo. Vacas com elevada produção de leite podem sofrer balanço energético negativo ainda maior e aumento da mortalidade embrionária quando as condições da forragem são limitantes.
Tem sido mostrado que o excesso de proteína (especialmente a proteína degradável no rúmen) aumenta a mortalidade embrionária nas vacas (Blanchard et al., 1990; Elrod e Butler, 1993; Elrod et al., 1993). O aumento do metabolismo ruminal da proteína resulta em aumento do nitrogênio uréico e da amônia do sangue, e diminuição do pH uterino no dia 7 após o estro. Estes estudos sugerem que tanto as taxas de fertilização como a sobrevivência inicial do embrião (antes do dia 17) estão comprometidas, e que as causas prováveis são uma alteração da produção de hormônio (principalmente progesterona) e um pH uterino mais ácido. Os animais mantidos a pasto raramente estão expostos a excesso de proteína em suas dietas.
Casos extremos de consumo excessivo de proteína ocorrem quando os animais estão em pastos de alfafa e trigo. Os efeitos benéficos da suplementação de proteína foram relatados para bovinos alimentados com proteína não degradável no rúmen antes da parição ou durante a fase reprodutiva (Patterson et al., 2003; Wamsley et al., 2005). Não é conhecido o mecanismo exato (ou os mecanismos) pelos qual a ingestão de proteína não degradável melhora a fertilidade, mas é provável que esteja ligado a diminuição da mortalidade embrionária.
Efeitos das Toxinas. O nitrato é um composto vegetal prevalente em épocas de estresse das plantas e que pode tornar-se um problema. O nitrato em si não é particularmente tóxico para os animais. Os nitratos consumidos pelos ruminantes são normalmente reduzidos à amônia, absorvidos e excretados, assim sendo convertidos pelas bactérias em proteína bacteriana. A intoxicação por nitrato ocorre quando o consumo na ração e na água é de tal ordem que os nitratos são convertidos em nitritos. Os nitritos se ligam à hemoglobina e diminui sua capacidade de transporte de oxigênio, o que poderia levar à morte embrionária em casos menos graves.
Devido ao mecanismo que leva à intoxicação por nitrato, os bovinos suspeitos de terem sido intoxicados devem ser manipulados o menos possível, o mais calmamente possível, para minimizar as suas necessidades de oxigênio. Altos teores de nitratos são muitas vezes encontrados em plantas que foram submetidas a estresse por más condições de crescimento, como seca, frio e tempo encoberto, danos provocados pelo granizo e geada. Plantas como aveia, milheto, sorgo e milho são particularmente suscetíveis a altos teores de nitrato e devem ter seu conteúdo de nitrato testado antes do uso para pastejo/arraçoamento. As fontes de água também podem ser ricas em nitratos e fontes novas devem ser testadas. As dietas utilizadas na época de cobertura ou para vacas prenhes não devem ultrapassar 5.000 ppm de nitratos com base na matéria seca (Brownson e Zollinger, 2003).
Influências ambientais sobre a mortalidade embrionária
Numerosos estudos foram realizados em vacas leiteiras enfocando os efeitos do estresse térmico sobre a reprodução, particularmente em vacas leiteiras de alta produção (ver a revisão de Hansen et al., 2001). O estresse térmico não é definido de forma consistente na literatura, mas geralmente se referem às temperaturas ambientes entre 32ºC e 43ºC e umidade relativa acima de 40%. Os bovinos podem ser afetados pelo estresse térmico quando a temperatura corporal aumentar apenas 1ºC, mas a maior parte da literatura refere um aumento a partir de uma temperatura normal, 38,5 a 39ºC, para uma temperatura igual ou maior a 41ºC.
O estresse térmico certamente contribui para a mortalidade embrionária em bovinos de corte na região tropical, e é uma importante razão para a utilização de animais Bos indicus ou mestiços de Bos indicus. O momento da ocorrência do estresse térmico em relação ao dia do ciclo estral e cobertura é crítico. Os bovinos são mais suscetíveis ao estresse térmico durante os 3 primeiros dias após a cobertura e se tornam mais resistentes a temperaturas elevadas com o maior desenvolvimento embrionário.
As temperaturas elevadas durante este período inicial resultam em atraso no desenvolvimento embrionário, de forma que o embrião fica “fora de sincronia” com o ambiente materno em que se encontra. O estresse térmico, entretanto, também pode suprimir a expressão do estro, alterar o desenvolvimento folicular, reduzir a fertilidade dos espermatozóides e do óvulo, além de reduzir a síntese subseqüente de progesterona. Todos estes fatores podem interferir com o desenvolvimento e o crescimento do embrião.
Há relatos na literatura de efeitos diretos e também indiretos do estresse térmico sobre a sobrevivência embrionária. Temperaturas corporais elevadas (1ºC de aumento na temperatura corporal) podem comprometer o desenvolvimento do embrião (Edwards e Hansen, 1997; Sugiyama et al., 2003). Vacas expostas ao estresse térmico do dia 8 ao dia 16 após a cobertura apresentam menor concentração de progesterona e maior secreção uterina de prostaglandina (Biggers et al., 1987; Geisert et al., 1988).
A genética tem efeito claro sobre a suscetibilidade ao estresse térmico, uma vez que os bovinos que evoluíram em climas quentes adquiriram genes que protegem os embriões contra temperaturas elevadas. A utilização de mecanismos para resfriar os bovinos durante a fase reprodutiva ou os primeiros dias depois da IA pode diminuir os efeitos das temperaturas elevadas sobre o desenvolvimento e a sobrevivência dos embriões. Outros métodos para reduzir os efeitos do estresse térmico podem incluir a ovulação sincronizada com a IA em tempo fixo, cobrir as vacas nas estações menos quentes do ano ou em horários de menor temperatura durante o dia, e a utilização na IA de sêmen coletado de touros não submetidos a estresse térmico.
Lidar com o estresse pode afetar o estabelecimento da prenhez e pode ser um problema que criamos em bovinos de manejo intensivo. Algumas vezes, os produtores que usam IA, por exemplo, transportam os animais para o pasto após a cobertura, o que poderia afetar o estabelecimento da prenhez (Harrington et al., 1995). Novilhas que foram transportadas durante 6 horas, 8 a 12 dias ou 29 a 33 dias após a IA tiveram taxas de prenhez mais baixas do que as novilhas que foram transportadas 1 a 4 dias após a IA, sugerindo que o estresse provocado pelo transporte resultou na perda embrionária.
Foram conduzidos 3 estudos adicionais nesta área, com o objetivo de determinar o mecanismo pelo qual o estresse provocado pelo transporte leva a perda embrionária, e assim poder prevenir esta perda. Como a placentação já está em andamento no dia 29 após a cobertura, os níveis elevados de prostaglandina como resultado do estresse provocado pelo transporte parece ser o método mais lógico pelo qual o estresse poderia afetar a sobrevivência embrionária inicial.
Uma única administração do inibidor de prostaglandina Flunixin meglumine (o ingrediente ativo de Banamine) a vacas e novilhas submetidas a estresse pelo transporte aproximadamente 13 dias após a IA, resultou em supressão da prostaglandina na corrente sangüínea e um aumento nas taxas de prenhez (Merrill et al., 2007). A administração de Flunixin meglumine a vacas sem o estresse pelo transporte, aproximadamente 13 dias após a IA, não aumentou as taxas de prenhez. Por outro lado, a administração de Flunixin meglumine a novilhas também sem o estresse pelo transporte, aproximadamente 13 dias após a IA, reduziu as taxas de prenhez (Geary et al., 2005).
A nossa interpretação destes dados é que reunir e manejar os animais nas instalações para administrar uma injeção é percebido pelas novilhas como algo mais estressante do que para as vacas. Não sabemos se o manejo das novilhas, levando-as a um novo pasto durante a fase reprodutiva, cria estresse suficiente para afetar a mortalidade embrionária, mas é provável que para a maioria das novilhas do rebanho isto dependa do estágio da prenhez. É provável, entretanto, que fazer o manejo das novilhas, fazendo-as passar pela seringa para fazer o diagnóstico precoce de prenhez (cerca de 35 dias após a IA sincronizada, por exemplo), possa afetar a sobrevivência embrionária nas novilhas que emprenharam no retorno ao estro, e que estariam no dia 14 da prenhez. Esses resultados mostram a importância de sempre manejarmos os animais como muita calma e cuidado.
Fatores diversos que afetam a perda embrionária
Papel da Progesterona
A progesterona é essencial para o estabelecimento e a manutenção da prenhez. Se uma vaca ou novilha não produzir progesterona em teores suficientes, a prenhez será perdida. Há condições em que as vacas produzem progesterona insuficiente depois de estarem no cio. A primeira condição é com um ciclo estral mais curto (geralmente de 8 a 12 dias), em que as vacas têm um CL de vida curta, que regride antes que o embrião tenha tempo para sinalizar sua presença. A maioria das vacas têm um CL de vida curta após sua primeira ovulação depois da parição. A única maneira comprovada de evitar ciclos curtos é simular este evento usando progesterona (tal como um CIDR) ou GnRH cerca de uma semana antes de uma injeção de prostaglandina para induzir a ciclicidade.
A outra incidência de progesterona reduzida ocorre em vacas que têm um ciclo estral de duração normal, mas níveis mais baixos de progesterona, e cujo útero é menos responsivo ao sinal embrionário para o reconhecimento materno (interferon-tau) e mais sensível à liberação de prostaglandina. Estudos recentes sugerem que as baixas concentrações de progesterona durante o ciclo estral anterior pré-condicionam o útero a liberar prostaglandina, mesmo na presença de um embrião em desenvolvimento (Shaham-Albalancy et al., 2001).
Outra causa de produção diminuída de progesterona é o tamanho do folículo ovulatório. A ovulação induzida de pequenos folículos, mas não a ovulação espontânea, resultou em produção subseqüente reduzida de progesterona (Busch et al., 2007). É provável que a causa da redução da progesterona nestas vacas seja a ovulação de um folículo imaturo, com menos células da granulosa, que eventualmente luteinizam e produzem progesterona. Estas vacas também têm taxas de concepção reduzidas, o que pode ser ainda piorado pela ovulação de um ovócito imaturo (Perry et al., 2005).
Além disso, concentrações menores de progesterona durante o ciclo estral anterior podem aumentar a incidência de ovulação de folículos persistentes, cujos óvulos são “velhos”. Estes óvulos são fertilizáveis, mas a mortalidade embrionária precoce é elevada e geralmente ocorre antes do estágio de 16 células (Ahmad et al., 1995). Diversos estudos tiveram por objetivo aumentar as concentrações de progesterona após a cobertura, com a colocação de CIDR ou a administração de GnRH ou hCG para criar um CL acessório. A maioria destas técnicas tem sido bem sucedida em aumentar as concentrações de progesterona no sangue, mas sua capacidade de melhorar a sobrevivência do embrião e as taxas de prenhez não tem sido consistente.
Uma parte da variabilidade na resposta da prenhez é que seria de se esperar que apenas as vacas com baixas concentrações de progesterona endógena se beneficiariam com estes tratamentos. Foi demonstrado que o uso de farinha de peixe na alimentação suprime a secreção de prostaglandina em novilhas com baixas concentrações de progesterona, sugerindo que pode melhorar a capacidade do embrião de sinalizar o reconhecimento materno da prenhez (Wamsley et al., 2005).
Efeito da idade
Muitos fatores podem ser incluídos no efeito da idade sobre a perda embrionária. As novilhas têm geralmente taxas de prenhez mais elevadas, e este aumento parece estar associado a menor mortalidade embrionária do que a das vacas. Entre os bovinos leiteiros, tanto as perdas embrionárias precoces como as tardias aumentaram com o aumento da idade das vacas (Humbolt, 2001; Starbuck et al., 2004). Este aumento na perda embrionária também esteve associado ao aumento da produção de leite e à diminuição das concentrações circulantes de progesterona.
O aumento da produção de leite em vacas leiteiras está muitas vezes associado a um aumento da ingestão de ração e clearance metabólico da progesterona, que provavelmente não é uma ocorrência importante entre as vacas de corte mantidas em condições extensivas. Trinta anos atrás, Erickson et al. (1976) relataram que não houve modificação na fertilidade das vacas de corte com a idade. Com as maiores demandas que existem atualmente sobre os bovinos de corte em alguns ambientes, eles podem responder com diminuição da fertilidade, semelhante ao que ocorre com vacas leiteiras.
Efeito do Macho. Há uma variação conhecida entre os reprodutores com relação à fertilidade, mas não conseguimos detectar a maior parte desta variação com os exames tradicionais. Uma parte desta variação parece estar relacionada a touros com maior incidência de mortalidade embrionária, mais do que a capacidade fertilizante de seus espermatozóides. O uso de touros com características de sêmen que não são compensáveis, como cabeça deformada ou vacúolos nucleares, resulta em redução das taxas de clivagem do embrião e um aumento da mortalidade embrionária (Saacke et al., 2000).
A maioria das características de sêmen que não são compensáveis não é detectada durante os exames de rotina, mas as centrais de IA dão bastante atenção à morfologia do sêmen para poder identificar os touros com estas características, uma vez que não se consegue compensar a fertilidade reduzida destes touros pela colocação de mais espermatozóides nas palhetas para IA.
Agentes Infecciosos. Atualmente, os produtores estão mais atentos aos agentes infecciosos que causam abortos ou quedas na fertilidade. Este trabalho não poderia cobrir de forma adequada todos os microrganismos envolvidos, sua etiologia ou os efeitos sobre o rebanho. Os programas sanitários e os esquemas de vacinação apropriados variam muito de uma fazenda para outra, e os produtores devem trabalhar com os veterinários locais para determinar qual o melhor programa para suas operações.
Resumo
Infelizmente, não há soluções mágicas capazes de eliminar a mortalidade embrionária. Podemos esperar, entretanto, que uma melhor compreensão dos fatores envolvidos e as prováveis causas da mortalidade embrionária permitam limitar seus efeitos em nossos rebanhos. Aqui, o conceito mais importante é que qualquer coisa que possa afetar as divisões iniciais e o crescimento do embrião irá afetar sua sincronia com o ambiente materno e diminuir sua capacidade de produzir os sinais adequados, em tempo para o reconhecimento materno da prenhez.