Quando nos deparamos com o tema produção e consumo de café, logo nos deparamos com o potencial do cafezal brasileiro. Afinal, somos os maiores exportadores de café no mercado mundial, além de ocupar a segunda posição entre os países consumidores da bebida.
Conforme informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a cafeicultura brasileira é uma das mais exigentes e produtivas do mundo e a preocupação em garantir uma produção de um café mais sustentável é uma necessidade recorrente.
Por essa razão, é extremamente importante conhecer os variados pontos do sistema de produção dentro da cafeicultura brasileira, tais como tecnologia, manejo/preparo do solo, estratégias de nutrição/adubação, além dos tipos de cafés mais comuns.
VARIEDADES DE CAFÉ: QUAIS SÃO AS OPÇÕES ENCONTRADAS?
Antes de falarmos sobre todas as características de um cafezal de sucesso, é essencial citar quais são as variedades de café mais tradicionais e cultivadas no país.
Primeiramente, vale citar que o café é uma planta exótica que engloba diversas espécies, das quais apenas duas são cultivadas e comercializadas:
- Coffea Arabica; e
- Coffea Canephora, conhecido como Robusta (no Brasil, Conilon).
Mas, dentro das espécies Arábica e Conilon, há diversos cultivares, que são, na sua maioria, desenvolvidas por meio de melhoramentos genéticos.
Entre as variedades mais comuns no Brasil são:
- Robusta
Aspecto rústico e de sabor acentuado, com grande resistência às doenças e tempo de maturação maior que a Arábica.
- Arábica
Variedade mais produzida e consumida do mundo, possuindo sabor puro e suave. É naturalmente mais adocicado e um pouco ácido.
As variedades de café Arábica são:
– Bourbon: Seu aroma intenso é complementado pelo sabor levemente adocicado. Em geral, oferece uma bebida suave. É muito produzido no sul de Minas Gerais.
– Novo Mundo: Com sabor marcante e aroma suave, é muito usado em torras mais escuras, sendo mais encorpado e doce que os outros. Essa variedade se adaptou na maioria das regiões produtoras.
– Caturra: Comumente encontrado na região da Serra do Caparaó, em Minas Gerais. Apresenta porte mais reduzido, folhas maiores, largas e novas, cor verde e elevada produção nas primeiras safras.
– Catuaí: Resultado do cruzamento dos tipos Novo Mundo e Caturra. Sua principal característica é a doçura natural, além de bom rendimento para o produtor. Ele é produzido em praticamente todas as regiões do Brasil.
– Acaiá: Mutação natural do Mundo Novo, ou seja, é 100% Arábica. Esse grão tem características mais acentuadas quando cultivado em altitudes elevadas, a partir dos 800 metros acima do nível do mar. Possui frutos com sementes muito maiores, se comparada a outra variedade, além de boa produtividade.
MANEJO E PREPARO DO SOLO PARA CULTIVO DO CAFÉ
Você decidiu investir na cafeicultura, fez a escolha do cultivar mais adequado, produziu mudas de excelente qualidade, para enfim chegar ao tão esperado momento – a implantação do cafezal! Mas como proceder neste sentido?
Nesse momento, é extremamente importante escolher o solo adequado, seguido pela realização do preparo adequado deste solo, proporcionando boas condições para o crescimento das raízes das plantas e promovendo maior volume de solo explorado para absorção de água e nutrientes.
Nessa preparação do solo, alguns técnicos optam pela sequência: subsolador, grade, niveladora e sulcador.
Subsolagem: Quando se possui uma compactação em camadas abaixo de 20 cm, a recomendação é utilizar um subsolador, que rompe camadas compactadas presentes principalmente nas camadas inferiores.
Aração: A principal função dos arados é propiciar ao solo melhores condições de aeração, infiltração e armazenamento de água. A aração do solo faz a inversão de suas camadas, normalmente realizada na profundidade de 20 cm.
Gradagem: Após a aração ou subsolagem, ocorre a formação de torrão no solo. Para o destorroamento e nivelamento, é utilizada a gradagem, na qual o perfil de solo revolvido é superficial, cerca de 10 a 15 cm.
Por fim, após a decisão de espaçamento entre linhas, a orientação dos sulcos deve ser planejada de forma que facilite manejos futuros com maquinários, desde adubação, tratamentos fitossanitários até a colheita. Esta prática deve ser alinhada de maneira que as linhas fiquem paralelas e com a mesma distância.
PLANTIO E REPLANTIO DO CAFÉ
Na cafeicultura, o plantio de café é a etapa subsequente à preparação do solo. Para isso, dar seguimento à algumas etapas são fundamentais.
Primeiramente é realizado o coveamento, que deve ser feito manual ou mecanicamente nas dimensões de 40 x 40 x 40cm, separando-se a terra mais fértil retirada da cova para misturar com adubo no momento do plantio das mudas.
Em seguida, o plantio das mudas deve ser realizado no período chuvoso com o uso de mudas de quatro a seis pares de folhas aclimatadas ao sol.
Também é importante o uso de cobertura morta em volta da muda para manter a umidade do solo e reduzir a competição com ervas daninhas.
Além disso, a evolução tecnológica na área da cafeicultura permitiu criar um padrão intermediário por meio de modernas tecnologias capazes de proporcionar o melhor aproveitamento do espaço.
Essa nova técnica é chamada de plantio semiadensado, com espaçamento de 2,5–3,2 m x 0,5 m. Essa técnica garante alta produtividade, variando de 6.300 a 8.000 plantas por hectare. No entanto essa técnica exige maior frequência nas podas.
O replantio do café, por sua vez, é uma necessidade quando plantas morrem ou ficam muito fracas dentro do cafezal. Essa é uma prática muito desejável para formar a lavoura de forma homogênea, mantendo o stand de plantas programado conforme o espaçamento desejado.
Além do mais, para um melhor replantio de lavouras adultas do cafezal, alguns cuidados devem ser observados, tais como:
- Usar mudas maiores;
- Usar variedades resistentes a nematoides;
- Usar fonte de matéria orgânica nas covas de plantio e inseticidas/fungicidas/nematicidas no pós-plantio;
- Fazer um controle de mato mais cuidadoso, junto às mudas replantadas, evitando deriva de herbicidas não seletivos;
- Diminuir a distância entre plantas na linha.
TRATOS CULTURAIS REALIZADOS NO CAFEZAL
Lavouras de café recém-implantadas demandam uma série de cuidados que, embora sejam simples e de fácil execução, são indispensáveis para promover a continuidade do cafezal. Por isso, elas devem ser realizadas em tempo hábil.
Dentre os tratos culturais recomendados, vale destacar: desbrotas, manejo do mato, manejo de pragas e doenças e, por fim, manutenção das estradas, carreadores, cordões e caixas de retenção.
As desbrotas tem por finalidade eliminar os ramos ortotrópicos indesejáveis e manter uma arquitetura ideal ao cafezal. Devem ser feitas sempre que necessário, o mais cedo possível, pois sua execução tardia pode causar alterações na arquitetura da planta e injúrias no caule.
O manejo do mato é uma técnica mais moderna e tem demonstrado redução de serviços com capinas, menor incidência de pragas, melhor conservação do solo, além de um ambiente mais equilibrado, favorecendo a produtividade e reduzindo o custo de produção.
O manejo integrado de pragas e doenças dentro do cafezal consiste na integração de uma série de práticas que o cafeicultor poderá adotar, após a implantação da lavoura e uma integração dos manejos cultural, biológico e químico.
Por fim, também é importante manter a correta manutenção de estradas e carreadores da lavoura, garantindo maior eficiência quanto à qualidade da produção do cafezal e do produto.
NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DO CAFEZAL
Tanto a nutrição quanto a adubação do café representem pontos fundamentais para excelentes produtividades da colheita de café. Para isso, três princípios básicos devem ser considerados:
- Exigência e estado nutricional do cafezal;
- Disponibilidade de nutrientes no solo;
- Eficiência da adubação.
A exigência e o estado nutricional do cafezal têm relação com a demanda por nutrientes que cada etapa do desenvolvimento do cafezal exige.
A frutificação, por exemplo, é a época de maior demanda, onde quanto maior a produção, maior será a demanda nutricional do cafeeiro.
Por outro lado, nos anos de baixa produção, quando o café vegeta e produz menos, naturalmente a demanda por nutrientes será menor!
A disponibilidade de nutrientes no solo é também variável, exigindo por isso a realização da correta amostragem e consequente análise do solo.
A análise será a responsável por garantir maior eficiência de adubação, em que a fonte, modo e época de aplicação dos adubos influenciam na eficiência deste manejo.
Também é importante considerar que as adubações irão variar de acordo com as diferentes fases do cafezal.
No plantio do café, por exemplo, independentemente da análise química de solo, recomenda-se aplicar 60g de P2O5, em formas solúveis, por metro de sulco de plantio.
Para o cafezal que está em formação as exigências de nutrientes são menores e diferentes de uma lavoura em produção, diferentemente do cafeeiro em plena produção, cuja exigência nutricional é maior, principalmente porque a planta precisa vegetar e frutificar.
Dessa forma, a exigência nutricional de cada etapa do cafeeiro deve ser suprida na quantidade e na época certas, somente assim a eficiência de uso dos adubos será maior, garantindo máxima produção.
COLHEITA DO CAFÉ
A colheita de café representa um dos pontos principais da cafeicultura, podendo ser realizada de forma manual (que confere maior consistência ao cafezal e maiores preços do café no comércio); semi-mecanizada, com a utilização de derriçadoras motorizadas portáteis; ou mecanizada que, por meio de maquinários, permite a realização da colheita plena ou seletiva dos frutos, sem causar grandes danos à planta.
TECNOLOGIAS E MÁQUINAS EM PROL DA CAFEICULTURA
Como visto até aqui, a tecnologia e o uso de modernas máquinas e implementos são grandes aliados da colheita do café, principalmente por ela envolver inúmeras operações, é a de maior custo e, consequentemente, de maior importância no custo de produção.
Mas, na atualidade a tecnologia cafeeira transcende a colheita. Afinal, por meio de muitos avanços tecnológicos, o trabalho em campo – seja no plantio do cafezal, adubação ou colheita – é muito mais veloz, além de aumentar a eficiência e a qualidade dos produtos.
Outra solução inovadora cada vez mais aplicada na cafeicultura são os softwares que permitem que o cafeicultor gerencie todas as etapas do seu sistema de produção.
Em um ambiente simples e intuitivo, o produtor gerencia cada processo, permitindo tomadas de decisão muito mais assertivas.
Render-se à tecnologia é, portanto, uma forma de produzir mais e melhor. Em um momento em que os consumidores valorizam cada vez mais a qualidade do café, contar com a tecnologia para colher um produto diferenciado é uma necessidade para sobreviver no mercado.
ESTRATÉGIAS DE ARMAZENAMENTO E VENDA DO CAFÉ
Na cafeicultura, o armazenamento do café pode ser feito após a secagem, ou ainda, antes e depois do beneficiamento. A forma como é armazenado garante a preservação da qualidade dos grãos.
Assim, quando realizada de uma forma mais assertiva, a boa armazenagem de café exige condições de armazenamento específicas que influenciam diretamente na qualidade do produto, como:
- Telhado que minimiza a transferência do calor;
- Paredes e pisos impermeáveis;
- Baixo índice de umidade;
- Iluminação interna reduzida;
- Higienização adequada de todos os armazéns.
Mas, é importante que o cafeicultor entenda que os grãos precisam estar em determinadas condições para o seu correto armazenamento.
Para maior precisão, a armazenagem de café deve ser realizada quando o produto estiver com a sua umidade próxima a 12%, resultado que pode ser obtido em tulhas ou silos.
Quando a armazenagem de café é feita nos armazéns, os grãos devem ser acondicionados em sacarias ou big bags, porém essa tarefa não é simples, reforçando a importância de um armazém preparado para atender as exigências do mercado cafeeiro nacional.
Outro ponto de grande importância são as estratégias relacionadas à venda do café, principalmente devido ao fato de o café ser um dos produtos mais voláteis comercializados mundialmente.
Os motivos desta volatilidade estão intimamente relacionados a diversos fatores, tais como os fatores não sistêmicos, fatores inerentes ao próprio mercado e às alterações no cenário econômico mundial.
Diante dessa volatilidade faz-se necessário que o cafeicultor entenda do mercado e opte pela opção que melhor o agrade, tendo no uso dos mercados futuros um meio que permita que ele possa operar com certa segurança e equilibrar financeiramente as variações do mercado cafeeiro.
CONCLUSÃO
Neste artigo tivemos a possibilidade de maior entendimento sobre o processo produtivo do café, com suas diversas etapas e características de grande importância para a condução de um bom cafezal.
Primeiramente é essencial conhecer as variedades de café e as características quanto ao preparo do solo em que o cultivo será realizado. Já o plantio deve ser muito bem planejado, com variados detalhes sendo bem definidos de forma prévia.
Os tratos culturais e a nutrição do cafezal, por sua vez, são essenciais para alcançar boa produtividade, principalmente por permitirem que a lavoura fique bem mais homogênea.
Vimos também que a colheita do café é a etapa mais importante da atividade cafeeira. Ela pode ocorrer de forma manual, semi-mecanizada e mecanizada. Além disso, para que a colheita seja a melhor possível é preciso que os grãos estejam em seu estado de maturação fisiológica (cereja).
Por fim, as estratégias de armazenamento e venda do café são etapas pós-colheita fundamentais. O correto armazenamento é essencial para manter as qualidades da colheita ou do beneficiamento do café.
Já a venda do café deve ser muito bem planejada, principalmente em virtude da grande variação no preço deste produto no mercado internacional.