Por Maria Laura R. Gomes – Consultora Agrícola, Solo Fértil
Nos últimos dias, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) promoveu a chamada XII Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária, cujo lema divulgado foi “Defender a vida, combater o agronegócio”. Como consultora agrícola que acompanha diariamente a realidade do campo, considero essa postura não apenas equivocada, mas preocupante, por transformar uma instituição pública em palco de uma narrativa ideológica que desconsidera dados, contexto econômico e o papel estratégico do agronegócio para o país.

O agronegócio brasileiro é responsável por mais de 25% do PIB, gera milhões de empregos diretos e indiretos, garante segurança alimentar para milhões de brasileiros e contribui significativamente para a balança comercial. Reduzir toda essa complexidade a uma narrativa de “vilania” é desrespeitar milhares de famílias e profissionais que trabalham com inovação, tecnologia e práticas sustentáveis no campo.
Hoje, o setor incorpora ferramentas como agricultura de precisão, manejo racional de insumos, integração lavoura-pecuária-floresta, recuperação de pastagens e melhoramento genético, demonstrando que é possível produzir mais e melhor, de forma sustentável. Demonizar o agronegócio em ambiente acadêmico é, portanto, um desserviço à ciência, à educação e à sociedade.
Diante disso, entidades representativas do setor se manifestaram com veemência:
Nota da Aprosoja RS
“A Associação dos Produtores de Soja e Milho do Rio Grande do Sul repudia, veementemente, toda ação ou discurso que incentiva o combate ao agronegócio no Brasil.
O agronegócio brasileiro é uma das bases da economia nacional, responsável por gerar emprego, renda e desenvolvimento em todas as regiões do país, além de garantir segurança alimentar para milhões de brasileiros e contribuir de forma significativa para as exportações.
Reforçamos que ataques infundados ao setor não apenas desrespeitam o trabalho de todas as famílias que vivem da atividade agropecuária, como também enfraquecem a imagem do Brasil no cenário internacional.
Percebemos que o MST e demais entidades estão tentando, com esse discurso, deslegitimar ou criminalizar o agronegócio. Isso deve ser visto como um ataque ao desenvolvimento nacional e ao futuro do país.
O agro é parte da solução, nunca do problema”.
Nota do Sindicato Rural de Júlio de Castilhos
“O Sindicato Rural de Júlio de Castilhos/RS vem a público manifestar seu mais veemente repúdio à Universidade Federal de Pelotas (UFPel), pela realização de chamada XII Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária, cujo lema divulgado é ‘Defender a vida, Combater o agronegócio’.
É inadmissível que uma instituição pública de ensino superior, custeada com recursos de toda a sociedade brasileira, promova desinformação e ataque frontal a um dos setores mais pujantes e estratégicos da economia nacional, o agronegócio.
O setor agropecuário é responsável por mais de 25% do PIB brasileiro, pela geração de milhões de empregos diretos e indiretos, pela balança comercial positiva do país e, sobretudo, pela segurança alimentar da população. Atacar o agronegócio é atacar a produção de alimento, a renda de milhares de famílias do campo e o desenvolvimento econômico do Brasil.
O produtor rural não se mede pela extensão de sua terra, mas pela grandeza de sua contribuição. Seja cultivado em pequenas áreas ou administrando vastas propriedades, todos possuem a mesma relevância: produzir com responsabilidade, garantir o alimento que chega à mesa das famílias, gerar emprego e sustentar a economia nacional.
O Sindicato Rural de Júlio de Castilhos reafirma seu compromisso com a verdade, com o diálogo e com a produção responsável e sustentável, repudiando toda e qualquer tentativa de manipulação ideológica que busque criar uma falsa dicotomia entre agricultura familiar, reforma agrária e agronegócio. Todos têm espaço e importância na construção de um país mais justo e próspero.
Por isso, exigimos da Universidade Federal de Pelotas respeito ao princípio da imparcialidade acadêmica, transparência no uso dos recursos públicos e responsabilidade institucional na condução de debates que envolvem o futuro do agronegócio brasileiro”.
Nota da UFPel
A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) destacou seu compromisso com a pluralidade, a formação crítica e a democratização do acesso ao ensino superior, apresentando projetos como o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis para a cadeia produtiva do arroz, em parceria com empresas e entidades do setor. A universidade reforçou que atividades como a Aula Inaugural da VI Turma Especial de Medicina Veterinária do PRONERA refletem o espírito de debate e pluralidade, integrando educação formal a trabalhadores assentados da reforma agrária e reconhecendo a importância de todos os segmentos da sociedade para o desenvolvimento do Brasil.
Repúdio fundamentado
Como consultora agrícola e cidadã, repudio de forma inequívoca a ação da UFPel. Transformar uma instituição pública em palco de um discurso que criminaliza o agronegócio é um desserviço à ciência, à educação e à sociedade.
A universidade deve ser espaço de debate, mas não pode assumir uma postura ideológica unilateral. Segundo Max Weber, a neutralidade científica (Wertfreiheit) é fundamental para que a produção de conhecimento não se torne refém de interesses políticos. Ao adotar o lema “Combater o agronegócio”, a UFPel ultrapassa essa linha e deixa de promover reflexão crítica para impor narrativa ideológica.
Do ponto de vista econômico, estudiosos como José Graziano da Silva reforçam que o desafio não é demonizar a produção em larga escala, mas integrar agricultura empresarial e familiar de forma eficiente e sustentável. O setor brasileiro, conforme destacado por Alexandre Mendonça de Barros, consegue produzir mais em menos área graças à tecnologia, manejo eficiente e inovação, consolidando o agro como instrumento estratégico de desenvolvimento e segurança alimentar.
Politicamente, Norberto Bobbio lembra que a democracia exige espaço para o contraditório. Quando universidades se alinham a uma visão única, elas negam esse princípio, criando divisões artificiais que prejudicam o debate informado sobre políticas públicas, sustentabilidade e inovação no campo.
Portanto, repudio a iniciativa e reafirmo que o caminho correto é diálogo, ciência, dados e colaboração entre campo e academia, e não ataques ideológicos. O agronegócio não é inimigo da vida; é a própria vida em ação: alimento, emprego, renda e desenvolvimento sustentável.
Atacar o agronegócio é atacar o Brasil, sua economia, sua segurança alimentar e o futuro de milhões de famílias que dependem diariamente desse setor. A pluralidade acadêmica exige respeito aos fatos, aos dados e à diversidade de perspectivas. É isso que devemos cobrar das instituições públicas.