Botulismo
O botulismo bovino, também conhecido como “doença da vaca caída”, tem incidência em várias regiões do país. Esta é responsável por grande queda no rendimento da produção e até mesmo a morte dos animais. Tal doença é causada pela ingestão e absorção intestinal de toxinas produzidas pela bactéria Clostridium botulinum. Afeta diretamente animais que vivem em pastagens carentes de fósforo ou suplementação inadequada e é considerada como um tipo de intoxicação.
É considerada uma doença sem cura em caso de animais que apresentam alto índice de intoxicação. Portanto, não há um tratamento efetivo que possa impedir o óbito. Sendo assim, a prevenção ainda é a melhor saída contra o botulismo.
O controle do botulismo é realizado através de medidas preventivas, já que o tratamento dos animais enfermos geralmente não é eficaz e de alto custo. As medidas preventivas adotadas estão relacionadas a:
- melhoria das condições ambientais e sanitárias como eliminação de fontes de contaminação nas pastagens através da remoção e incineração de carcaças;
- manejo nutricional adequado e suplementação mineral permanente dos animais, como a correção da deficiência de fósforo nas pastagens;
- vacinação de todo o rebanho com toxoides botulínicos presentes em diferentes vacinas comerciais. A vacinação deve ser feita anualmente, antes do período das chuvas, sendo que a primeira imunização deve ser seguida de reforço quatro a seis semanas após a primeira dose. Em algumas situações, como na criação extensiva de bovinos, esta é considerada a principal medida de controle do botulismo, devido aos custos elevados e dificuldades operacionais para a realização das outras medidas preventivas citadas anteriormente.
Brucelose
A brucelose é uma doença causada por uma bactéria chamada Brucella abortus. É infectocontagiosa, de evolução crônica e caráter granulomatoso típico, podendo ser transmitida ao homem por meio do leite cru e seus derivados.
Os sintomas mais encontrados nos animais acometidos por essa afecção são os abortos nos estágios finais da gestação; esterilidade temporária; aumento do intervalo de partos; nascimentos prematuros; queda na produção de leite; febre; mastite; perda de peso; inchaços nos testículos; entre outros.
A brucelose pode ser transmitida de um animal para o outro por meio da conjuntiva, úbere, pele intacta, ingestão de pastagem ou silagem contaminada, secreções, aguadas e águas contaminadas.
O seu controle consiste na vacinação das novilhas de três a oito meses de idade, bem como fazer um diagnóstico sorológico dos animais. Além disso, deve-se fazer o controle de trânsito dos animais interno e externo. Além disso, é muito importante usar luvas descartáveis ao manejar os animais contaminados; não comercializar leite e derivados sem inspeção; marcar as bezerras (na faixa de três a oito meses) a ferro, no lado esquerdo, com um V, ao lado do último número do ano em que se está vacinando para realizar melhor controle.
Tuberculose
A tuberculose bovina é uma doença infectocontagiosa crônica, que causa prejuízos à pecuária e representa uma barreira econômica e riscos à saúde pública (ingestão de leite contaminado). A sua transmissão acontece por uma bactéria chamada Mycobacterium bovis, da família Micobacteriaceae.
A transmissão ocorre por meio de gotículas em suspensão, bem como inalação de pó com o bacilo. Quando abrigada em locais com incidência de luz, podem sobreviver por vários meses, enquanto nas pastagens, sobrevivem por até dois anos.
Os bezerros podem adquirir o microrganismo ao ingerirem leite infectado. A taxa de morbidade em bovinos situa-se em torno de 8 a 10% e a letalidade natural pode chegar a 50%.
Existem duas subformas da doença, quando a mesma se encontra em estágio generalizado:
- Miliar: quando ocorre de forma abrupta e maciça, sendo encontrado elevado número de bacilos circulantes;
- Protraída: esta é a mais comum; a disseminação ocorre por via linfática ou sanguínea, atingindo pulmão, linfonodos, úbere, ossos, rins, sistema nervoso central, disseminando-se por, praticamente, todos os tecidos.
O teste cervical simples e o teste confirmatório cervical comparativo são as principais medidas sanitárias a serem adotadas. Além desses procedimentos, o abate dos animais reagentes positivos deve ser feito, bem como autorização da movimentação dos animais na propriedade, somente mediante atestado negativo à enfermidade. Animais com mais de 6 semanas fazem teste anual, sendo que os positivos devem ser isolados e descartados.
Limpeza e desinfecção do ambiente e exames clínicos em todos os animais e tratadores da propriedade deve ser realizado de maneira periódica. Não há recomendação de tratamento para tuberculose em bovinos. A maioria dos casos não responde ao tratamento e contribui para o surgimento de cepas resistentes, além da eliminação de medicamentos no leite.
Febre aftosa
A febre aftosa acomete os bovinos, sendo transmitida por um vírus pertencente ao gênero Aphtovirus da família Picornaviridae. Sendo importante salientar que o vírus da febre aftosa dificilmente acomete o homem.
Em relação à sintomatologia, inicialmente os animais têm febre, falta de apetite e pápulas. Em seguida, as pápulas se transformam em pústulas, em vesículas que se rompem, dando origem a aftas na língua, lábios, gengivas e cascos. Dentre as regiões que podem ser acometidas estão a boca, a língua, o estômago, os intestinos, a pele em torno das unhas e na coroa.
Esses sintomas debilitam muito o bovino, que baba muito, com dificuldade de se alimentar e se locomover. Além da produção de leite diminuir, o animal debilitado fica exposto a outras doenças. Mesmo em casos que os animais se curam, os mesmos tornam-se portadores convalescentes assintomáticos e colocam em risco, novamente, o rebanho após a perda da imunidade por nascimento ou por compra de animais suscetíveis.
O controle da febre aftosa é realizado por meio de vacinação obrigatória. A vacinação deve ser semestral e abranger todos os animais em um período de 30 dias contínuos; vacinação semestral de animais com até 24 (vinte e quatro) meses e, anualmente, para animais com mais de 24 meses de idade, em um período de 30 dias contínuos. Esta estratégia pode ser adotada apenas nos estados onde o registro das propriedades rurais está consolidado e onde tenha sido realizada a vacinação semestral por, pelo menos, dois anos consecutivos, observando-se um grau de cobertura da vacinação superior a 80%.
Doença digital bovina (DDB)
As doenças digitais apresentam grande variação clínica e resultam em inúmeros prejuízos aos criatórios, levando principalmente ao descarte prematuro, diminuição da produção de leite, perda de peso, redução da fertilidade e aos altos custos dos tratamentos.
Está associado ao manejo dos animais, visto que o manejo intensivo (dietas ricas em carboidratos, falta de apara dos cascos e pisos úmidos e ásperos) é o principal ponto associado ao surgimento da doença. Entretanto, também há influência de fatores genéticos no surgimento dessa afecção. Tem-se observado um aumento da incidência dessas doenças nas épocas chuvosas ou, excesso umidade nos locais de permanência dos animais.
É inevitável que haja a contaminação bacteriana da lesão, especialmente pela Fusobacterium necrophorus e Dichelobacter nodosus, podendo aumentar a severidade do quadro por miíases. Em casos onde o tratamento é inadequado, pode haver uma infecção e inflamação generalizada do dígito, resultando em pododermatite séptica ou pododermatite necrótica.
Os sinais clínicos mais observados são claudicação de intensidade variada; relutância em se locomover; postura de falsa cifose para distribuir o peso do corpo à posição mais confortável e marcha em passadas curtas caracterizaram a lesão na fase inicial da doença como uma inflamação interdigital altamente infecciosa.
Para a prevenção e controle desta enfermidade é importante construir pedilúvios nas entradas e saídas das instalações dos animais. Manter sempre os pedilúvios abastecidos com soluções antissépticas. Evitar o acesso e permanência dos animais em pastos e instalações excessivamente úmidas. Deve-se evitar a introdução de animais com problemas nos cascos ou provenientes de rebanhos com histórico de pododermatite.
O tratamento da doença digital bovina é baseado na limpeza e higienização diária dos cascos afetados e utilização de antibióticos sistêmicos e/ou locais. Para evitar a disseminação da doença no rebanho, os animais doentes devem ser isolados em locais secos e tratados. O tratamento deve se possível, ser realizado no estágio inicial da doença para evitar a cronicidade das lesões. Nos animais criados extensivamente, deve-se fazer o casqueamento, duas vezes ao ano, no início ou final da época seca como medida profilática.
Doença respiratória Bovina (DRB)
O complexo das doenças respiratórias dos bovinos é o resultado de uma ruptura do equilíbrio entre as defesas naturais do animal e os fatores externos que favorecem a doença. Entre as doenças respiratórias que acometem os bovinos, as pneumonias são as mais frequentes e de maior gravidade, com quadros clínicos variando de crônicos até agudos e fatais.
Entre os fatores ambientais e de manejo que favorecem a ocorrência da enfermidade estão a superlotação, mistura de animais de diferentes idades e níveis imunológicos no mesmo lote, calor ou frio excessivo, elevada umidade relativa, instalações com ventilação deficiente, concentrações elevadas de poluentes e patógenos.
A doença geralmente se inicia por uma infecção viral primária e muitas vezes é seguida por infecção bacteriana, resultando em pneumonia.
Dentre as espécies de bactérias comumente citadas e mais preocupantes estão a Pasteurella (Mannheimia) haemolytica, Pasteurella multocida e Histophilus somni (antigamente Haemophilus sommus).
Os sintomas dos animais acometidos pela doença respiratória bovina podem variar desde leves até a morte. Entretanto, DRB é frequentemente identificada por meio de depressão, perda de apetite, corrimento nasal e ocular, letargia, dificuldades respiratórias, febre, ou qualquer combinação destes.
Em relação a prevenção é considerado que o mais importante é reduzir os fatores de estresse e vacinar os animais contra vírus e bactérias que mais frequentemente provocam a doença, garantir rigorosa higiene ambiental e evitar fatores de risco e condições estressantes como manipulações desnecessárias dos animais e superpopulação; garantir que os recém-nascidos recebam o colostro nas primeiras horas de vida.
Carrapatos
O Rhipicephalus (Boophilus) microplus é conhecido como o carrapato dos bovinos e está presente em todo o Brasil. O hospedeiro principal deste carrapato é o bovino e a presença do mesmo nos rebanhos pode acarretar grandes perdas econômicas. Os prejuízos causados por este ectoparasita estão associados com a perda de peso, baixa conversão alimentar, redução na produção de leite, perdas na qualidade do couro, toxicoses, lesões de pele que favorecem a ocorrência de miíases, anemia e transmissão de agentes patógenos que provocam graves enfermidades, como a babesiose e a anaplasmose.
O tratamento de combate aos carrapatos pode ser realizado via carrapaticida, via tratamento curativo e via tratamento racional. O tratamento por carrapaticida consiste em controle do R. (B.) microplus, que no Brasil é realizado principalmente na fase parasitária, através do emprego de diversos grupos químicos e o uso de carrapaticidas, sendo essa a principal medida para o combate do carrapato.
Os tratamentos podem ser separados em dois tipos: tratamento curativo e tratamento racional. O tratamento curativo se baseia na aplicação de carrapaticidas após a constatação de carrapatos no animal. Este tipo de tratamento é o mais utilizado no Brasil, porém é o menos eficaz podendo acelerar o aparecimento de resistência. O produtor que realiza o tratamento apenas com o objetivo de “curar” os animais geralmente não tem conhecimento da epidemiologia e de quais são as características do ciclo do carrapato. Já o tratamento racional é baseado no conhecimento do ciclo do carrapato, com o objetivo de diminuir a população de carrapatos nos bovinos e na pastagem. O controle estratégico consiste na concentração dos tratamentos em determinadas épocas do ano. Este programa de controle quando realizado corretamente diminui a quantidade de tratamentos e, consequentemente, reduz tanto os gastos com carrapaticidas quanto a probabilidade do estabelecimento da resistência.