Por Maria Laura R. Gomes – Especialista Agro Solo Fértil
Nos últimos dias de março, observou-se um incremento nas negociações de milho em diversas regiões do Brasil, impulsionado pela maior disponibilidade do grão em determinados estados. Essa ampliação na oferta resultou em uma leve redução nos preços em locais como São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e partes do Paraná.
No entanto, apesar desse aumento pontual na oferta, a valorização do milho ao longo do mês se manteve. Dados da Safras & Mercado indicam que, até 28 de março, a saca do cereal foi cotada, em média, a R$ 84,86, representando um aumento de 5,76% em relação aos R$ 80,24 registrados no final de fevereiro. Esse movimento reflete a pressão de diversos fatores sobre a cadeia produtiva do milho.
Fatores que Influenciam o Mercado Interno
Mesmo com o aumento da oferta em algumas regiões, o abastecimento geral ainda é considerado restrito. A hesitação dos produtores em vender estoques é um dos fatores que mantêm os preços sustentados, já que muitos aguardam melhores cotações diante da incerteza climática que pode comprometer a produtividade da segunda safra (safrinha).
Além disso, problemas logísticos e o alto custo do frete seguem como entraves para a distribuição do milho no país. O avanço da colheita da safra de verão e o plantio da safrinha também influenciam a dinâmica do mercado. Chuvas irregulares em algumas regiões produtoras podem impactar o desenvolvimento das lavouras, reduzindo a expectativa de produtividade e elevando os preços no médio prazo.
Cenário Internacional e Seus Impactos no Brasil
Enquanto no Brasil os preços seguem em alta, o mercado internacional apresenta uma tendência oposta. A Bolsa de Chicago registrou desvalorização do milho ao longo de março, influenciada por incertezas comerciais e tarifas impostas pelos Estados Unidos a países como China, México e Canadá. Essa conjuntura tem gerado um enfraquecimento da demanda pelo cereal norte-americano, aumentando as expectativas para um crescimento na área de plantio do milho nos EUA para 2025.
Outro fator relevante é a competitividade do milho brasileiro no mercado externo. Com a safra recorde do Brasil em 2023 e a consolidação do país como maior exportador global de milho, os estoques internos seguem pressionados pela alta demanda externa. Países como China, Irã e Egito aumentaram significativamente suas compras do cereal brasileiro nos últimos meses, reduzindo a disponibilidade doméstica e contribuindo para a manutenção de preços elevados no mercado interno.
Dica para o Pecuarista que Ainda Vai Plantar Milho Safrinha em Abril
Para os pecuaristas que ainda vão semear o milho safrinha neste mês de abril, a escolha do híbrido correto e a atenção ao calendário climático serão fatores essenciais para garantir um bom rendimento. Como o plantio está ocorrendo no limite da janela ideal, recomenda-se optar por híbridos precoces, que tenham ciclo curto e boa resistência a estresses hídricos.
Outro ponto fundamental é a gestão da fertilidade do solo. Um bom balanço de nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) é indispensável para o desenvolvimento adequado das plantas, principalmente em áreas destinadas à produção de silagem para o gado. Adotar práticas como a adubação de cobertura pode fazer a diferença no enchimento dos grãos e na qualidade nutricional da silagem.
Além disso, é essencial acompanhar a previsão do tempo para evitar períodos prolongados de estiagem e garantir que o manejo da lavoura seja feito nos momentos adequados, principalmente em relação ao controle de pragas e doenças. O uso de tecnologias de monitoramento climático pode ser uma ferramenta valiosa para tomar decisões mais assertivas.
Perspectivas para os Próximos Meses
A expectativa para os próximos meses dependerá da evolução do clima e do desempenho da segunda safra. Caso haja atrasos no plantio ou adversidades climáticas que afetem a produtividade, a oferta pode ser ainda mais comprometida, sustentando a alta nos preços.
Além disso, os mercados devem ficar atentos às movimentações internacionais, principalmente relacionadas às decisões comerciais dos EUA e ao apetite da China pelas exportações brasileiras. Se a demanda global seguir aquecida e os desafios internos persistirem, os preços do milho no Brasil podem continuar em níveis elevados até o segundo semestre de 2025.
