O trigo é uma cultura de grande importância mundial, estando sempre entre os mais produzidos e apreciados por suas multifuncionalidades. São muitos subprodutos oriundos deste cereal, porém ele é limitante em condições climáticas.
O Brasil, por ser um país tropical, não favorece muito o cultivo do trigo que se desenvolve mais plenamente em climas temperados. Isso restringe um pouco seu cultivo em nosso país, que em sua grande maioria se concentra no sul e alguns estados do sudeste.
O clima em si, não atrapalha apenas no desenvolvimento deste cereal, mas na ocorrência de doenças fúngicas e que em sua grande maioria está associada à alta umidade. É o caso da Giberela, conhecida também por fusariose do trigo.
Ocorrência da doença
A giberela, cujo agente causal é o fungo Gibberella zeae (Schwein.) Petch (anamorfo Fusarium graminearum Schwabe), é uma das principais doenças em trigo, sendo transmitida em sua grande maioria, pelas sementes contaminadas.
Esta doença se manifesta mais intensamente em regiões com excesso de chuva e temperaturas amenas durante os períodos de floração e maturação dos grãos, podendo ser encontrada de forma generalizada por todo o mundo.
A doença é mais frequentemente encontrada no trigo, mas também pode afetar a cevada, a aveia, o centeio e algumas gramíneas forrageiras.
Sintomas da giberela
A giberela é melhor reconhecida pelo branqueamento de flores na ponta. Infecções graves podem causar crestamento precoce ou branqueamento de todo o espinho. Outros sintomas incluem descoloração de bronzeado a marrom.
Normalmente um micélio rosado/laranja está presente na base das flores sob condições úmidas, e grãos que são enrugados, brancos e de aparência calcária. Peritécios (corpos escuros de frutificação) são produzidos dentro do micélio, posteriormente no processo de infecção. Espiguetas descoloridas e doentes são estéreis ou contêm sementes murchas/descoloridas (geralmente com uma tonalidade rosa ou laranja).
Como ocorre a transmissão da giberela
A transmissão do patógeno da semente para a plântula, ocorre entre as etapas de disseminação e colonização do seu ciclo de vida. Esse processo implica no transporte que proporciona uma infecção bem-sucedida, dando origem a uma planta doente.
Quanto à quantificação da transmissão, esta pode ser realizada através da detecção dos sintomas nas plantas, partindo do princípio de que o único meio de inoculação foi através da associação do patógeno com a semente.
Patógenos necrotróficos, em sua grande maioria e parte dos biotróficos, utilizam-se da semente como veículo de disseminação, abrigo e sobrevivência.
Dentre os fatores que afetam a transmissão dos patógenos a partir de sementes e, que podem afetar o estabelecimento do patógeno em uma cultura, destacam-se:
- Espécie cultivada (resistência varietal);
- Condições ambientais (umidade ambiental e do solo, temperatura, vento, chuva e luz);
- Inóculo (viabilidade, localização na semente, tipo);
- Práticas culturais (tipo de solo, pH, população de plantas, profundidade de semeadura e época de plantio, fertilização, etc.);
- Sobrevivência do inóculo;
- Vigor da semente;
- Microflora do solo e da semente, entre outros.
Existem ainda duas outras maneiras possíveis de estabelecimento do patógeno no interior das sementes: através do sistema vascular de plantas atacadas e através de órgãos fertilizadores, como grão de pólen contaminado ou infectado.
No caso da contaminação de sementes por patógenos, esta é comumente concretizada pela mistura mecânica do inóculo por ocasião da manipulação de plantas durante a colheita.
Reduzindo o contágio do patógeno
Tais fatores podem reduzir ou incrementar significativamente a passagem do patógeno para os órgãos foliares e/ou radiculares da planta hospedeira, refletindo no desenvolvimento da doença na lavoura.
A transmissão de patógenos através das sementes é capaz de propiciar:
- Introdução do patógeno em novas áreas;
- Sobrevivência do microrganismo na ausência do hospedeiro;
- Seleção e disseminação de raças específicas a determinados hospedeiros e
- Distribuição através da população de plantas como focos primários de inóculo.
Por se tratar de uma associação biológica, as taxas de transmissão planta-semente e semente-plântula são bastante influenciadas pelo ambiente e pelas características inerentes ao patógeno e ao hospedeiro.
A idade da planta, na ocasião da infecção, por exemplo, é um dos fatores que afeta a transmissão. De qualquer forma, essa relação biológica é afetada por fatores físicos, biológicos e por aqueles inerentes ao tipo de germinação das sementes.
Para patógenos habitantes do solo, como é o caso dos fungos pertencentes ao gênero Fusarium, o acesso à superfície dos frutos e sementes é favorecido pelo contato direto dessas estruturas com o solo ou através de respingos de chuva ou de irrigação por aspersão.
Manejo de controle da giberela
A giberela é considerada a doença do plantio direto. A sobrevivência saprofítica do patógeno em diversos hospedeiros, como espécies de plantas cultivadas, nativas e invasoras, assim como a facilidade de dispersão dos ascósporos, transportados a longa distância pelo vento, faz com que a giberela não seja controlada eficientemente pela rotação de culturas.
A grande disponibilidade de inóculo no ar, durante o período de floração, associada a períodos de molhamento contínuo, tem levado a danos significativos na cultura do trigo.
O escalonamento na época de semeadura e o uso de cultivares com diferentes ciclos, são estratégias de escape que possibilitam que as plantas possam atingir o período de predisposição sob condições climáticas adversas ou menos favoráveis ao patógeno.
No Brasil, ainda não estão disponíveis pela pesquisa cultivares resistentes à doença. Há indicação de cultivares com diferentes níveis de tolerância.
A aplicação de fungicidas específicos na floração é uma estratégia recomendada. A eficácia de controle depende principalmente do fungicida e do momento de aplicação.
A eficácia de controle químico da giberela no campo e o rendimento de grãos de trigo são maiores quando as aplicações de fungicidas específicos são realizadas no início do estádio fenológico de floração.
O maior rendimento de grãos foi obtido com o fungicida metconazole, diferindo estatisticamente da testemunha, com aumento relativo de 29,6%. Uma única aplicação de todos os fungicidas proporcionou aumento médio no rendimento de grãos em relação à testemunha de 24,3%, variando de 15,7% até 29,6% (Tabela 1).
O que é eficiente contra a giberela
Em termos gerais, é possível reduzir a incidência dessa doença fúngica por meios práticos. Como ela é uma doença que requer a umidade, é preciso fazer o manejo sanitário em restos culturais, caso opte pelo plantio direto.
O uso de cultivares tolerantes à doença também pode ajudar e, ainda, o manejo gradual de mudança de cultivares no plantio, sendo eles de ciclos distintos, auxilia na tolerância da planta e desfavorece a doença.
Por fim, se optar pelo tratamento químico, fique atento à qualidade do produto e principalmente a época de aplicação, que deve ser no início do florescimento.
A giberela é a principal doença apontada pelos triticultores, mas há outras como mancha-amarela e ferrugem. Todas elas reduzem significativamente a produção e, caso não sejam controladas, podem permanecer nos restos culturais e serem passadas às próximas culturas, comprometendo sua renda!
Além das doenças, há ainda as pragas e daninhas. Ou seja, é preciso entender de forma específica cada uma delas, se quiser alcançar os resultados que almeja em sua produção.